terça-feira, 13 de dezembro de 2022
quinta-feira, 8 de dezembro de 2022
Sem regresso
Depois de atravessar a nado
As águas geladas do rio neve
Ouviu os corvos a crocitar
Enquanto sobrevoavam
Em círculos
O que ao longe
Parecia uma montanha
Mas ao perto
Era um inimaginável cúmulo
De êmbolos e cambotas
Dínamos e gambiarras
Eixos e jantes de tratores
Tanques de guerra
Pedaços da fuselagem
De aviões militares
Tudo amontoado numa pilha
De ferrugem sobre a carcaça
De um porta aviões
Que ninguém sabe como foi
Ali parar
Durante dez anos não fez mais
Senão inspecionar aquele arranha-céus
De sucata onde o vento fazia música
Que o fazia arrepiar
Mas foram precisos mais dez
Para chegar ao topo desses desperdícios
E se sentar
Avistando então ao fundo o mar
E as cidades dos humanos
Que toda a vida imaginara
Mas sentiu a vertigem terrível
De ser impossível regressar
Daquela altura
Que antevia como sepultura.
sábado, 3 de dezembro de 2022
Ter a dizer
Nada ter senão a dizer
O mundo com tantas fontes
Tantas árvores de fruto
E tantas mesas de pão
Com seus comboios de música
A atravessar oásis sem estação
Os desejos suspensos
De tanta imaginação
Passeios pela abundância
Que cansa de sonhar
A privação de prazer
Mais frustração do que alegria
Com que se aprende a lidar
Nem sempre fará esquecer
Os reinos da fantasia
Em que quero acreditar.
sexta-feira, 25 de novembro de 2022
Rios e horizontes
Há rios sem margem
Para dúvidas
Horizontes de tal sorte
Que são pontes
Sobre a dificuldade da morte
Tudo o que aprendi
E não sabemos
Do tamanho das dores
Que o tempo semeia
Com tanto amor
Quanto odeia
O que dizemos
Frutos doces e amargos
As saudades
Que temos
Se fossem aves iriam pelos largos
Barcos pelas vertentes
Se fossem luz pelas janelas
Voz pelo brilho das nascentes
Se fossem água iriam pelos olhos
Sem visão
Foram apenas
E é o que são
Almas penadas
Se vissem o dia
Seriam nadas
Levados pela mão vazia.
sexta-feira, 18 de novembro de 2022
Tempo de viver
Nada há que possa levar
Nenhuma verdade no alforge
Nenhuma fantasia disfarçada
Nenhuma amargura predileta
Nenhuma vontade frustrada
Nem ódio de estimação
Ou alegria
Nada
E não é por prémio
Sorte de paixão
Por castigo ou dever
Que nada levarei
Mas também nada
Nem mulher
Que tanto adorei
Me levará
Porque não irei
Estarei ausente
Da fortaleza
Da cidade morta
Sem me render
Isso eu sei
Baixo os braços
Ao vento do planalto
Que sopra sem perceber
Os passos em sobressalto
Dos escaravelhos
No momento de ceder
Como quando velhos
Sem alternativa acaba
O tempo de viver.
sábado, 12 de novembro de 2022
A mulher dos meus sonhos
A mulher
É a mulher dos meus sonhos
Indefinida e holista
Como nenhuma outra
Existe em muitas
Inúmeras imensas
E como é bom saber isso
Apesar de doloroso
Não há como fingir
Não há como ignorar
As pérolas
O caleidoscópio dos meus olhos
A mulher dos meus sonhos
Em cada uma que passa
Diante da lente natural
Dessa realidade virtual
Como num desfile
De memórias falsas
Mas mais relevantes
Do que as verdadeiras
Não é universal
E tem tanto de sonho
que é mais real
sob as amendoeiras
em flor.
Arte de bem marear
Tudo muda quando me olhas
Pelas estrelas que aprendi
A tomar como bússola
Na solidão do mar
Sem ti
Tudo se transfigura
E me passa pela cabeça
Poder estar de volta
A um lugar vazio
Aonde vejo chegar
Uma réstia de pássaro
Caído
Por ter parado
No ar
Sobre o paraíso
E me entregasse à justiça
De te desejar
Sem nada mais em mente
Ao ver-te à minha frente
E acreditar.
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Ficção e realidade
Ouvi dizer que a guerra é para ti
Como se fosse uma telenovela
Uma ficção muito pobre e mal feita
Que já verteste mais lágrimas a ver filmes
Que já não distingues a ficção da realidade
Que até já chegaste a ver mais realidade na ficção
Do que na realidade em direto
Que não estás preparado para entender
Senão o que alguém te explica
De um modo que não te implica.
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