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quinta-feira, 20 de março de 2014

Tentações


Antes de escurecer

Desceste 
Do trono
Para ver-te solta
E sentires-te confiada 
Aos meus olhos
Ébrios da tua graça 
Dos goles 
Da tua taça 
Enquanto davas 
Passos desnorteantes
Para seres entronizada
Num reinado
De tentações.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Todos os sinais


O silêncio não tem hora
Mas tem becos
Onde mora 
Ninguém 
Casas com tectos
Sem portas 
A horas mortas
Nem tectos tem.



domingo, 16 de março de 2014

Implicações


Não te sintas à beira do abismo 
Se te oferecer dinheiro
Como 

Se te oferecesse beijos
Não te zangues 

Se te convidar 
Na paisagem esquecida e bravia 

Da tua alma
A tornares-te desesperadamente
Consciente 

Da tua nudez
Dando-me beijos
Como 

Se me oferecesses dinheiro.

sábado, 15 de março de 2014

Pódio

Sobe ao pódio dos teus pés

Que o prémio te sinta 

Mesmo que não sejas vencedor
Te diga que o és

Canta o hino 
Que aprenderes
A olhar para longe 
Do que fores
Capaz
Que o silêncio
No fim 
Seja murmúrio
De paz. 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Ao amor desconhecido


Se tivesses uma morada ou telefone
Que eu soubesse
Um telemóvel ou e-mail que
Provavelmente tens
É improvável que escrevesse esta carta sem endereço
Nem sequer a escreveria
Faço-o porque não te conheço
E sou fiel
Ao sonho e mais profundo desejo
Sem trair o anjo do meu cortejo
E sem temer
Vir-me a arrepender
Pelo menos enquanto não te encontrar
Se tivesse dúvidas sobre o ridículo das cartas de amor
Elas cessariam com esta
Não por ser simples carta de amor
Mas por ser ao amor desconhecido
Que confiança pode merecer-te alguém que viveu
Oitenta anos sem te ter tido
Ou que o afirma
Mais indigno de ti
Quem diz que amou sem te conhecer
Ou quem não amou à espera que isso acontecesse
Mas tu não vieste?

quarta-feira, 12 de março de 2014

É de mim


Falo daquelas ruínas
e é de mim
do que os nossos olhos não viram
daquelas matérias-primas
a propósito da construção
do mundo
do que restou
dos perigos
que é muito
que é imenso
mas não basta
quando falo dessas coisas
de factos e mais
de ausências cruciais
inexistências
como se falasse de aparências 
sem alegria
como se a poesia fosse o que falta
à fantasia
como se a fantasia fosse um estaleiro
de sucata
que avistamos da janela
da prisão perpétua.

sábado, 8 de março de 2014

O sonho é vago mas a luz é forte


O sonho é vago
Mas a luz é forte
No mar de faúlhas
Lágrimas de sol poente

A vida passa
No horizonte de asas
Efémeras e tranquilas
De uma gaivota branca

Respira coração respira
Como se existisses desde sempre
Na alma do mundo
E nunca te esquecesses

E avista para lá das nuvens
O azul do céu mais matinal
Porque eu sei que um sonho 
É feito de muita ternura natural 

É quando te digo meu amor
E me enriqueço tanto por te ter
É quando desejo que o fragor das ondas 
Seja um hino todo nosso até morrer.


quarta-feira, 5 de março de 2014

Horizontes


A noite tem horizontes 
De olhos doces
Como o vapor da sopa 

No inverno
Luzes astrais 

No tecto falso 
Alcance ultramoderno
Dentro de muros 

Medievais
Quem mandou construir o castelo
Não chegou a vê-lo
Dentro da noite 

A escadaria
Termina 

Num oratório 
As sombras indecisas
Sem interior
Como azulejos
Ao gosto 

Da época
Revestem 
As paredes 

Que restam.


Carlos Ricardo Soares