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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Quando olho é como se já não visse


Quando olho é como se já não visse
por ser tão longe e tão profundo
o significado em que tudo o que vejo
se tornou
nesta surpresa que sempre procurei
quando acreditava que o futuro
era o tempo de realizar sonhos
que o presente então
ao meu esforço negou
 eu olhava e era como se não visse
por não ser preciso
mesmo assim eu queria ver
o significado em que tudo se tornaria
o presente me dá quase sem eu querer
quando olho como se já não visse
o que desejava ver.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Tudo está errado

Fui feliz onde vivi 
Cada momento como se não houvesse outro

Olho o que se me oferece
Não escolho ver 
Para além do que conheço 
Contemplo se me apetece
Se não 
Está errado o que existe? 

Está errada a forma 
Como vemos
E como sentimos
E como pensamos
E como vivemos

Salvo erro
Tudo está errado
E é por isso
Que não podemos parar
De corrigir.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Para que não se faça silêncio

Estamos à beira de qualquer coisa que não sabemos o que é
E não é noite
Fitamos o curso da vida e que aprendemos?
Com um sufoco de revolta na garganta 
Não nos abraçamos
Ouvimos o canto dos pássaros
E blasfemamos
Temos as mãos próximas
E não as damos
Porque preferíamos que as estrelas
Não existissem
Tristes muito tristes vamos
Desconfiados das próprias sombras
Se amamos 
Não nos lembramos
Se estamos vivos?
Estejamos 
Porque temos medo
E raiva e ódio e desespero
A morte é pouco menos que isso
E arremessamos palavras
Para que não se faça silêncio.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Conquistador

Recostei-me para pensar
Que os mansos dominarão a terra
E acabei deitado a falar sobre a morte
Para um gravador das câmaras
De vigilância da minha própria solidão
Dúvidas há quanto ao ressonar
Que se confunde com o desumidificador
Mas não quanto ao sonhar 
Como um montanhista que tivesse caído
Pela garganta de um desfiladeiro
Ouvindo o desespero do próprio eco
E chorasse um choro verdadeiro
O momento em que falece
O conquistador
O momento da verdade 
A derrocada estrondosa
De quantos quiseram impor
A sua vontade.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Beijos que te quero dar


Os teus olhos são o riacho emboscado

Onde hortelãs selvagens proliferam
O Verão feliz que não voltei a ter
Os reflexos que me deram
A imagem do que quero ser

Esta cidade não é
O chão luxurioso
De açafrões e margaridas
À espera do vento
Para se polinizarem
Mas a noite é
Desse tempo
De luar e água
Se casarem

Sofri
Mas valeu a pena
Pelos desejos imensos
Que aprendi
A não saciar
Pelos beijos
Que te quero dar.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Mundo em ruínas


Perdoem-me se rio
Enquanto caminho 
No mundo 
Em ruínas
De mãos dadas com uma mulher 
Que resplandece
Perdoem-nos esta vontade 
De viver
Galgando 
Sonhos 
Desfeitos 
Até aos cumes do que acontece.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

As coisas não têm de ser como são



A primeira vez que pus música
Onde só havia silêncio
Foi como a primeira vez que
Numa rua sem vivalma
Pus personagens a circular
Para me convencer
De que as coisas não têm de ser
Como são

Onde havia uma casa fechada
Abri uma confeitaria
E onde havia nada
A entrada
À poesia
A uma mulher que ia
À sua vida
Com duas tempestades
E a mesma escuridão
Nos olhos
Vi relâmpagos divinos
Na noite
De amor
Num deserto
Que nos escutava.


domingo, 22 de dezembro de 2013

Este Natal



Este Natal está ainda mais cheio
de memórias
mais vazio de riquezas
perdidas
mas o meu coração
está onde está
o meu tesouro
não as minhas certezas
este Natal está ainda mais cheio
de incertezas
e isso dá-me esperança
num mundo em que as pessoas
parecem senhores
de uma verdade
triste.