sábado, 3 de dezembro de 2022
sexta-feira, 25 de novembro de 2022
Rios e horizontes
Há rios sem margem
Para dúvidas
Horizontes de tal sorte
Que são pontes
Sobre a dificuldade da morte
Tudo o que aprendi
E não sabemos
Do tamanho das dores
Que o tempo semeia
Com tanto amor
Quanto odeia
O que dizemos
Frutos doces e amargos
As saudades
Que temos
Se fossem aves iriam pelos largos
Barcos pelas vertentes
Se fossem luz pelas janelas
Voz pelo brilho das nascentes
Se fossem água iriam pelos olhos
Sem visão
Foram apenas
E é o que são
Almas penadas
Se vissem o dia
Seriam nadas
Levados pela mão vazia.
sexta-feira, 18 de novembro de 2022
Tempo de viver
Nada há que possa levar
Nenhuma verdade no alforge
Nenhuma fantasia disfarçada
Nenhuma amargura predileta
Nenhuma vontade frustrada
Nem ódio de estimação
Ou alegria
Nada
E não é por prémio
Sorte de paixão
Por castigo ou dever
Que nada levarei
Mas também nada
Nem mulher
Que tanto adorei
Me levará
Porque não irei
Estarei ausente
Da fortaleza
Da cidade morta
Sem me render
Isso eu sei
Baixo os braços
Ao vento do planalto
Que sopra sem perceber
Os passos em sobressalto
Dos escaravelhos
No momento de ceder
Como quando velhos
Sem alternativa acaba
O tempo de viver.
sábado, 12 de novembro de 2022
A mulher dos meus sonhos
A mulher
É a mulher dos meus sonhos
Indefinida e holista
Como nenhuma outra
Existe em muitas
Inúmeras imensas
E como é bom saber isso
Apesar de doloroso
Não há como fingir
Não há como ignorar
As pérolas
O caleidoscópio dos meus olhos
A mulher dos meus sonhos
Em cada uma que passa
Diante da lente natural
Dessa realidade virtual
Como num desfile
De memórias falsas
Mas mais relevantes
Do que as verdadeiras
Não é universal
E tem tanto de sonho
que é mais real
sob as amendoeiras
em flor.
Arte de bem marear
Tudo muda quando me olhas
Pelas estrelas que aprendi
A tomar como bússola
Na solidão do mar
Sem ti
Tudo se transfigura
E me passa pela cabeça
Poder estar de volta
A um lugar vazio
Aonde vejo chegar
Uma réstia de pássaro
Caído
Por ter parado
No ar
Sobre o paraíso
E me entregasse à justiça
De te desejar
Sem nada mais em mente
Ao ver-te à minha frente
E acreditar.
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Ficção e realidade
Ouvi dizer que a guerra é para ti
Como se fosse uma telenovela
Uma ficção muito pobre e mal feita
Que já verteste mais lágrimas a ver filmes
Que já não distingues a ficção da realidade
Que até já chegaste a ver mais realidade na ficção
Do que na realidade em direto
Que não estás preparado para entender
Senão o que alguém te explica
De um modo que não te implica.
quinta-feira, 3 de novembro de 2022
Com ódio por amor ou com amor por ódio
Que dizes
Em que língua
Com que léxico
Sabe-lo tu?
Nem eu
Será a língua dos ventos uivantes
Ou o léxico dos cavaleiros inebriados?
Parece mais lume do que água
A despenhar-se sem asas
Sem o azul das aves
Que se elevam como cinzas
Para o cume da mágoa
Que é ser assim
Ouço-te onde estiveres
Até onde estiver o significado
Do teu riso
De uma desordem que acontece
E não almejas
Nem tudo se constrói com palavras
Nem com o que desejas
Mas a destruição é uma constante
Quando olhamos para o que fizemos
Com amor ou ódio
E vemos que não resulta à letra
Que o amor ou ódio não estão lá
Vemos manifestações de ignorância
De um poder de tijolos falsos
A destruição é manifestação de poder
E a resposta é mais destruição
Desse poder.
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
Se a pedra ouvisse
Esteja onde estiver
Faça o que fizer
Pense o que pensar
Diga o que disser
Tenha o que tiver
Sinta o que sentir
Está onde não estou
Estou onde não está
A pedra a ouvir
Se ao coração falasse
Diria mil poemas
À tentativa de possuir
Outros mil ao sentir
A falta
Muitos mais ao engano
Que há nisso tudo
E no que falta sentir
Que nunca é de mais
Se for beleza
Por mais que confunda
A céu aberto
Até o desejo doer
Na cava profunda
Da sombra suave
De castelos de areia
Diria mil tolices
Às flores por perto
Sem fazer ideia do tempo
Sem sepultura
Voltar para trás
Aos gritos
Para fazer a vontade
Aos versos aflitos.
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