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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Rios tortos


Todas as árvores fixaram o meu olhar
e fizeram-me sentir
deixaram-me a chorar

O brilho do estio
naufraga a ave
de pio fatigado
descarnado
de um cadáver adiado
em pedaços
os meus pensamentos
sem leveza 
para chegar ao céu
acercam-se da terra
que os alimenta
de rios mortos.


Carlos Ricardo Soares 08.02.2017

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Saudade

Minha tristeza
ter vivido
como sonharia
sem poder
vencer
o futuro
desconhecido
do que 
havia
nunca o imaginado 
tempo 
parasse
a recuperar o perdido.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Algum modo ou forma de verdade


Se eu fosse demolidor diria
felizes os que têm prazer de ler o que escrevo
porque são justos e belos
e sãos e santos
e inteligentes e sensatos
e quase perfeitos
mais do que eu
mas escrevo sem recriminações
não como um juiz
nem como um réu
escrevo como um ignorante
que aspira à sabedoria
como um cego
que aspira à visão
como um forte
que não tolera a força
mais do que um fraco
que não se resigna a qualquer sujeição
escrevo como um crente
a esperança e o amor
a racionalidade e a poesia
a expressão de algum modo ou forma
de verdade.

sábado, 7 de janeiro de 2017

O que nasce sem ser semeado

                      
Para haverdes sonhado
o que esperais
sem ser semeado
o dia 
dessanguentado
pelas mãos 
da noite deâmbula
vos será dado
bálsamo
da melhor oração 
quando houverdes o alecrim
dourado
não será pelo vento 
mutilado.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Palavras que ofereço


O torturador de palavras
O seguidor de palavras
O escravo das palavras
O senhor das palavras
O amante das palavras
O inimigo das palavras
O sem palavras...

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Para ser científico


Sou contra  todas as tentativas de "imposição" de crenças, religiosas, científicas, filosóficas, ideológicas... Mas o que é mais corrente é isso: todos, desde os ateus aos cépticos, não param de tentar "expandir" a sua fé. 
Na ciência é a mesma diligência. E por aí fora. 
Mas eu sou contra isso, porque sou preguiçoso e não me preocupo com a sorte das pessoas após a vida. 

A brincar que o diga, preocupo-me com a sorte dos vivos, tanto daqueles que são vivos de mais como daqueles que são vivos o suficiente para viverem à custa dos menos vivos, ou dos mortos.
A minha preguiça tem a ver com isso, com a preocupação que tanta gente que me não conhece tem por mim. Eles são escritores, poetas, cientistas, papas, políticos, militares, médicos, professores, juízes, polícias, cantores, construtores de automóveis e de aviões, farmacológicas, etc., etc.. 

Habituado, como estou, desde que nasci, a ver tanta gente envolvida em "guerras" e em "pazes" por minha causa, deixei de me preocupar. Afinal, não preciso de me preocupar. 
Mas preocupo-me porque quero paz e liberdade, não quero que me forcem a ser feliz, não quero que sejam infelizes só porque eu não me vou salvar.
Enfim, a minha preguiça não vai tão longe que eu não queira dialogar. 

Então, sempre que me aparece um artista, um cientista, um "iluminado", um político...que me quer salvar, eu agradeço e peço apenas uma coisa em troca de ouvir: que me deixem falar tanto quanto os ouça. 
E marco no relógio. Para ser científico. 
Assim, eu tenho alguma certeza de estar de igual para igual.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Entre nós


Não há nada 
para decifrar
pergunta nenhuma 
para responder
se a felicidade é 
um não problema
se a competência
para escolher 
o melhor
é uma forma desajeitada
de pensar 
para além de nós.


domingo, 14 de agosto de 2016

Vem


Vem pernoitar no escuro
até onde só eu
te encontre
no silêncio
até onde só tu
me ouças
na doçura
até onde só nós
estejamos
na música
até onde 
só nada ouçamos
na loucura
até onde só nós 
chegamos.