segunda-feira, 17 de novembro de 2014
As línguas do amor
Por favor
Fala-me todas as línguas
Do amor
Que há-de haver alguma
Que eu compreenda
Se me falares só uma
Talvez a não entenda
Se houver uma escola
De línguas do amor
Ou de amor
Ou ao menos de uma das línguas
Do amor
Eu quero aprender
O amor fala todas as línguas
Que nós desconhecemos.
sábado, 15 de novembro de 2014
Inverno na praia
Sempre me dói a miséria
Dos mastins abandonados
Mais do que tristes
Os seus olhares envergonhados
As asas de chávenas
Da Vista Alegre
Partidas em bocados
Nas escadas à porta
Do museu dos esmoucados
O porte e o pêlo de cão
De uma disciplina fria
De prisão ao pescoço
À coada luz do dia
Desejo não lhes lembre valentia
Tristes matilhas de colecção
De joalharia
Que ninguém quer roubar
Estômago não teria
Para os inventar
Gelam-me os ossos
Fazem-me chorar
E são apenas podengos
Que temem ladrar
Melancólicos famintos
Hesitantes
Preferem ficar
Distantes
E passar por
Assaltantes
Mas lixo
São
Os seus diamantes.
terça-feira, 4 de novembro de 2014
Se não houvesse ruas
Se não houvesse ruas
haveria caminhos
senão
o mar à volta
o deserto
a noite cerrada
o chão coberto
de neve
o sol encoberto
um labirinto
se não houvesse casas
haveria grutas
bosques
florestas
senão
nem no dia
nem na noite
haveria frestas
por onde
os nossos olhos
se aventurassem
se não houvesse
braços
se não houvesse alma
se não houvesse abraços.
sábado, 1 de novembro de 2014
O que fazem mortos
Sobre o vale nada
ecoa
uma distância
os horizontes
uma luz
antiga
como a espera
um crepúsculo
de recolher
os gados derradeiros
Camões
é primavera
está a chover
uma chuva que a nós
visita do que era
eternidade que é
agora
sabemos que há mortos
por todo o lado
mais vivos
do que a própria saudade
e vivos sem liberdade
mais mortos
do que era de esperar
neste tempo
de venalidade
atroz
que rouba sonhos
como quem rouba ouro
que não derrete
e o que pode acontecer
é o que mais promete.
Vi ou vi ora viu ou viu
O privilégio que deve a Deus
recordar o bom que viveu e imaginou
enquanto desce ao poço do inferno
da restrita visão
da lanterna que treme
luz
na escuridão
é privilégio
e dom
ouvir um rio que não
se vê
e muito bem conheço
sentir um frio
que eu próprio arrefeço
pensar que não mudei
o mundo
para melhor
do que mereço
se fez de mim o que sou
não me conheço.
sábado, 25 de outubro de 2014
Ave da alegria
Essa ave será
rara
um dia
que ninguém diz
nas estórias
que a fantasia
à mesa da taberna
ou bar
ou como lhe chamam
ave da alegria
de todos os caçadores
da morte
nos sorrirá
e nós
morcões continuaremos.
sábado, 18 de outubro de 2014
A minha guitarra
A minha guitarra vai sempre
comigo
não se faz rogadacomigo
toco-lhe o umbigo
e ela me agarra
transfigurada
de esperança
é feita
de dor
cantada
cantada
A minha guitarra leva-me
pela mão
com que lhe toco
pela mão
com que lhe toco
no coração
se quero farra
se quero farra
se a provoco
ela é perfeita
na reacção
ela é perfeita
na reacção
Mas se estou triste
ela me solta
e me canta
e me escolta
e resiste
e pinta a manta
de tons profundos
nunca está cansada
a minha guitarra.
ela me solta
e me canta
e me escolta
e resiste
e pinta a manta
de tons profundos
nunca está cansada
a minha guitarra.
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
O poeta declara por sua honra
O poeta declara por sua honra
Que não sabe
Onde ouvirás sinos de palavra
Se nos sulcos de mãos limpas
Ou se é pouco ou nada estares
Disponível para azares
Se não os procurares
Que por envergares traje
E barrete napoleónicos
Ainda menos figura fazes
Do que uma cavalgadura
Que quem espera ser servido
Só conhecerá os manjares
Do que é requerido
Se o esperar é muito mais
Que o desdenhar
Incomparável é procurar
Que ao sábio se consinta
Invocar cepticismo
E que aos demais
A ignorância
Seja tolerada…
… … … … …
Subscrever:
Mensagens (Atom)