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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

À procura de um papel


Onde está aquela abóbora?
Na idade das trevas?
Na idade das luzes?

Aqueles burros nada dizem
Nem que está no tempo
Nem que está no caminho.

E vós?
Dizeis alguma coisa?
Estais no caminho certo?
Não sabeis?
Andamos perdidos?
Que é que faço?
Que é que digo?

O mendigo já não está lá
A falar aos transeuntes
Mas ainda não foi parar
Ao depósito dos defuntos
Sem abrigo.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Mal encarados


O sofrimento é das flores
Que tantas vezes preferem
Morrer
A ferir com suas raízes
Delicadas
Pedras
Vivendo o tempo breve
Que tem o sol
E ninguém mais
Para as ver.


domingo, 9 de setembro de 2012

Palácios confusos



Nunca os mesmos
cada vez que avistaram

meus olhos

de longe

na penumbra de anos
nas brumas de décadas
ali estão
e ali ficam
palácios confusos edifícios
memórias que me elevam
a uma transparência
calma
sem vícios.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

É triste recordar



Com recordar
felizes momentos
se vive
triste
que o bom acaba
e não merece mais
que o mau
que não dura sempre
como só a verdade
dói.



sábado, 11 de agosto de 2012

Conto ao meu tempo


Conto ao meu tempo
que o meu tempo sabe
e me ensina
a felicidade infeliz
que assim foi
como dizem que assim é
agora
ao depois que fora
apenas a voz do que era
ninguém ignora
lança ou expande
da terra
o que a canto destina
e a terra eleva
sem tempo
escreva.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Todo o bem que te fazem



As luzes da cidade
não me deixam ver as estrelas
são como velas
que alumiam
o caminho para o céu


A chama dos pensamentos
É uma estranha dança ao espelho
Com música e tambores 
Que nos ignoram


Se o pensamento é caótico
mais inábil do que o instinto 
a saída
do labirinto é 
(como penso)
o que sinto


Não te canses de perguntar
se as coisas têm de ser como são
se podes retribuir aos burros
todo o bem que te fazem.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Começar do zero



Não consegues regressar 
para recuperar o que perdeste 
e não querias
para fazeres o que não fizeste 
por não saberes
ou porque não podias
não consegues esvaziar a mente
da tristeza 
das derrotas 
e das vitórias 
não colheste alegrias
não foste capaz de amar
por não achares quem mereça
o sonho
sonhar sonhaste
com nada do que aconteça
a vida é sonho
paralelo à morte
tempestades
em que ninguém se salva
não consegues imaginar como será 
como seria
a felicidade de um novo dia
se o mundo nunca tivesse existido
para a alma 
começar do zero.



sexta-feira, 23 de março de 2012

O nojo



Encontrei um tipo a vomitar 
a própria sombra, 
no candeeiro da esquina 
da avenida do Ar com a rua do Mar, 
em frente à taberna jaguar
pensei
o que fazer quando as palavras enojam e tudo à volta delas?  
A maior mer.. é a mer.. impingida como se fosse outra coisa ou, 
pior ainda, 
como se não fosse mer.., ou, 
ainda mais, como se fosse coisa boa. 
Se estas palavras enojam, não há remédio. 
O remédio “não leias” é um veneno. 
Um bom remédio não é possível. 
Enquanto as palavras não te enojarem de morte, 
serás um grande ignorante. 
À medida que te fores enojando, 
serás um ignorante cada vez mais pequeno, 
até não seres nada 
reflecte 
lê 
fala. Escreve. 
Vale a pena. 
A pena.
Agora, 
entra o retórico em palco
e até o oxigénio imprescindível para respirar se torna asfixiante. 
Estado de coma. 
O oxigénio do retórico é o coma dos outros. 
Cuidado com a retórica. 
Perigo de morte. Afasta-te.
Cague com classe!
Que arte?!  C… com classe. 
Borrar com classe. 
Classe. Escrever…mer... 
Escrever com…mer... 
A mer.. é o menos, é o nada (que existe). 
Escrever é que é.