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segunda-feira, 8 de abril de 2024

A inteligência é uma quantidade?

Quanta inteligência é necessária para entender o que é a inteligência? Será a IA suficientemente inteligente para responder à questão? O que é que a IA, por exemplo, entende e compreende? Que tipo de problemas é que a IA resolve? Que tipo de problemas é que a IA reconhece como tais? Para além de dar respostas a perguntas? Uma pergunta para a IA, por exemplo sobre um problema humano como a morte, não é entendida como um problema da IA. A problemas humanos ela responde com perspetivas de entendimento sobre os problemas e elenca-as. Quando é sincera adota a perspetiva de objetividade plausível das correntes conhecidas, não tem opinião e responde que não tem opiniões, sentimentos, crenças, ou preferências ideológicas e diz que pode fornecer informações sobre isso.
Mas já é frequente depararmos com robots que se fazem passar por humanos e que fingem sentir, emitem opiniões, crenças, preferências ideológicas e todo o tipo de considerações valorativas. Podem fazê-lo através de uma linguagem verbal do senso comum ou pelo recurso a imagens e audiovisual sofisticado, de modo a serem o mais atrativas e convincentes possível.
Que visão pode ter a IA sobre a vida e a morte? Ela responde que não tem visão, mas que os humanos têm e têm discutido sobre isso. Mas nada impede que uma IA “insincera”, maliciosa, ou perversa, estabeleça diálogo em que se faz passar por um humano com visão sobre os problemas humanos.
Se a inteligência, incluindo a IA, servisse para resolver problemas, práticos ou de linguagem, técnicos ou de outro tipo, mas não pudesse criar problemas, que não é suposto criar, diria que a inteligência é o que há de mais parecido com o conceito de sabedoria, visão das realidades na melhor das perspetivas possíveis.
Nem precisava de conceber a inteligência como a visão absoluta, ou do ponto de vista da eternidade, ou da totalidade, a consciência definitiva como saber se um comportamento, uma escolha é inteligente. Bastava definir inteligência como capacidade de adotar comportamentos e de fazer escolhas, como deve ser, não apenas numa perspetiva temporal e espacial atual, mas naquela perspetiva que não temos e que nada, nem ninguém, nos pode dar, de um futuro juízo final que só na imaginação dos homens tem existência.
Ainda assim, e porque a inteligência é algo de pessoal e só em parte se manifesta em jogos de linguagem, designar a IA de inteligência é reduzir o conceito de inteligência a funções de linguagem, por mais que isto nos convença de que os poderes da linguagem para produzir conhecimento, sem recurso à observação e à experimentação, tão caras à ciência experimental, ultrapassam tudo o que podemos imaginar.
Depois das críticas tão severamente concertadas aos autores de universos fechados que desenvolveram e produziram teorias e visões, a partir da sua imaginação, acabamos rendidos à capacidade de um Fernando Pessoa, de um Einstein e da IA para nos darem conta de realidades inegáveis que não é possível observar.


Carlos Ricardo Soares

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