Hilário: amar é pelo bem que sabe, pelo gosto que dá
Amiga: e o sabor que tem
Hilário: pela vontade que há, pela ideia que se faz do que é
Amiga: que será
Hilário: pela falta que faz o bem desejado
Amiga: pela dor persistente do amor ausente
Hilário: amar é pelo próprio poder de escolher
Amiga: pela liberdade de fazer
Hilário: pelo prazer de dar prazer
Amiga: ser amado é ser escolhido
Hilário: ninguém pode escolher ser amado
Amiga: quem quer ama
Hilário: não é amado quem quer
Amiga: ninguém tem esse poder
Hilário: ninguém tem o direito de ser amado
Amiga: mas temos o dever de amar
Hilário: e, se não amares, que te pode acontecer?
Amiga: sabes a resposta ou perguntas para saber?
Hilário: sempre amei, não sei o que é não amar
Amiga: o mesmo digo eu, tenho experiência de amar e de odiar, mas não isso de não amar
Hilário: no entanto, há muitas pessoas que não amas nem odeias
Amiga: há, haverá e sempre houve, podemos amar quem não conhecemos?
Hilário: isso do conhecer é muito relativo, até que ponto se pode conhecer alguém?
Amiga: voltando ao dever de amar, em que é que consiste, se é que existe?
Hilário: nem as autoridades, nem a polícia, te perguntam se amas ou deixas de amar e não há sanções para isso
Amiga: não perguntam, nem estão autorizadas a fazê-lo, até o tribunal está inibido de se meter nesses assuntos, porque não há leis sobre o direito e o dever de amar e o tribunal trata de leis
Hilário: nunca ouviste falar na lei do amor?
Amiga: já estava à espera dessa, do dever de amar a Deus sobre todas coisas
Hilário: e ao próximo, como a si mesmo
Amiga: acreditas nessa lei? Que tens esse dever e que, se tens esse dever, então toda a gente tem ou que, se toda a gente tem esse dever, então tu também tens?
Carlos Ricardo Soares
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