quarta-feira, 13 de agosto de 2025
Elogio da imperfeição
sexta-feira, 8 de agosto de 2025
Que diz Isadora Azur IV
Com voz serena e olhos que não fogem
Isadora Azur diz que
às vezes acha que o amor que quer
não pode ser dito.
Há frases que não pedem resposta
apenas bênção.
Que se guardam
não como segredo
mas como coisa que ainda está a ser revelada.
Não sabia por quem esperava
e talvez nem esperasse por alguém
talvez esperasse por uma história que a incluísse.
Frases sem destinatário
mas cheias de tom.
Porque para ela
se o amor não podia ser dito
talvez pudesse ser ensaiado.
Como fazem os poetas.
Como fazem os loucos.
Como fez Quixote
que amou antes de saber se era possível.
Carlos Ricardo Soares
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
Que diz Isadora Azur II
II
Isadora Azur não se move por cortesia ou curiosidade
mas porque a poesia a convoca com verdade suficiente
para não querer sair:
“Há histórias que julgamos ler de fora
mas sem pedir licença elas passam a escrever-se por dentro.
Hoje acordei e percebi que já não sou leitora.
Sou personagem.
Mesmo que o enredo não saiba onde termina
há beleza em saber que, por um instante,
a ficção deixou de me proteger
porque começou a tocar-me.”
Carlos Ricardo Soares
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Que diz Isadora Azur V
V
quarta-feira, 30 de julho de 2025
Que diz Isadora Azur III
segunda-feira, 21 de julho de 2025
Que diz Isadora Azur I
I
Como quem inicia o erro necessário
que a fará existir para além da beleza ideal
diz Isadora Azur
Já não me preservo na distância
na forma que não se toca
no gesto que não falha
fui templo mas não peregrina
o ideal foi meu modo de ordenar o caos
amar sem tocar foi o dom
que me protegia da vulgaridade
mas agora pressinto o custo do sublime
ele exige que eu seja escultura
que negue o tremor que me faria humana
quero que me desejem
não para possuir-me
mas para que eu exista fora da projeção
se o desejo me quebrar
que seja com poesia
que me quebre.
(Isadora Azur já não teme a manipulação emocional
porque prefere a vulnerabilidade
à perfeição sem resposta).
Carlos Ricardo Soaressexta-feira, 11 de julho de 2025
À distância que convém
Tudo deve ser visto
À distância que convém
A noite não acoita as luzes
Mas oculta os movimentos
Da maré a subir
E as estrelas cintilam
No escuro
Que é onde se podem ver
Por mais que nos separe
É a distância que torna possível
Olhar para um abismo
Que fica do lado de fora
Sem deixar de estar
Lá dentro
No interior de nós.
Carlos Ricardo Soares
segunda-feira, 23 de junho de 2025
Aqui jaz um homem que tinha razão
Vi-vos passar
com os olhos cheios
de luzes
e as mãos quase sempre ocupadas
por objetos
ofuscados por promessas
alheios ao esplendor dos grifos
e das águias nas alturas
planando sobre o eco dos vales
e a sombra das suas asas
projetada pelo sol nos rios
ninguém vos culpe por não verdes
o mundo
ensinou-vos a correr antes de olhar
mas aqui debaixo desta pedra
onde já não corro nem quero
não me interessa ter razão
nem espero que alguém
algum um dia
pare para levantar os olhos
e a seus pés
neste lugar esquecido
acenda uma vela
e deixe uma luz
a tremer
entre o que foi dito
e o que ficou por dizer.
Carlos Ricardo Soares