Falar da Escola, digo Escola Pública, não é o mesmo que falar de Escola, em geral, nem de Escola, enquanto Ensino Particular, como vem sendo entendido em Portugal. É uma frustração sem saída retomar os temas à volta da Educação e do Ensino, do que são e do que devem ser, sem delimitar convenientemente o tema e o problema. Uma afirmação válida para a Escola Pública pode ser descabida para o Ensino Particular.
A impressão com que fico sempre que leio opiniões sobre estes assuntos é que, um pouco à semelhança do que se passa no futebol, todos sabem o que é, porque as regras do jogo são simples, muitos dizem o que deve ser, mas só uns tantos jogam e, destes, nenhum se conforma com o jogo em que sai a perder. De qualquer modo, o que decide o resultado nunca é uma mera soma de factores, que são conhecidos de todos. Por isso é que, tal como também acontece nas missas, os treinos e as palestras dos treinadores, tirando a parte física e táctica, repetem-se e podiam ser substituídas por um robot.
Podia até ir mais longe para dizer que, tanto o jogo da bola como as missas, são passíveis de serem substituídos por estruturas a que, por simples comodidade, chamamos genericamente de robots. Mas só até certo ponto porque, tanto o espectáculo do futebol como os rituais religiosos, fazem parte de um sistema significativo de respostas culturais e de relações sociais cujos efeitos no “modus vivendi” e implicações na organização das prioridades e nos projectos de vida das pessoas tendem a sobrepor-se ao interesse do espectáculo e da participação religiosa em si mesmos. Nem os espectadores vibrariam com uma qualquer vitória de um jogo entre robots que não se identificassem com uma hoste, nem Deus aplacaria a sua ira tenebrosa se em vez de uns quantos humanos, esporadicamente suplicantes, fossem inúmeros robots dedicados, inteira e permanentemente, a orar e a entoar cânticos.
Na Escola, a parte humana, física e mental do processo de aprendizagem e de aplicação de competências e de conhecimentos, não deve ser metida numa trituradora altifalante e repetitiva, dos sentidos, da energia e da paciência para pensar, levando tantas vezes ao resultado oposto daquilo que devia ser realizado.
A forma como a Escola está estruturada e organizada, numa sala com um professor e um livro, ou outros recursos do mesmo tipo e com idêntica finalidade de incutir aprendizagem teórica em situação de simulação, se funciona com algum tipo de alunos, não resulta para a maioria.
A própria predisposição individual do aluno para se sentir bem e realizado num modelo que ele gere muito bem e com sucesso, é uma condição “sui generis” que, nos tempos em que fui estudante, era, praticamente, “conditio sine qua non” para ser encaminhado para a Escola.
Houve uma grande mudança social e político-económica que promoveu e potenciou a obrigatoriedade de um modelo que não se adaptou à nova realidade dos alunos. Digamos que, grosso modo, não conseguiu ultrapassar o problema de o aluno ser uma espécie de variável independente.
Na realidade, não é boa ideia fazer de conta que têm de ser os alunos a mudar para que a Escola continue a ser o que era. Boa ideia será encarar o facto de que, se não é possível adaptar os alunos à Escola, talvez o melhor seja pensar em adaptar a Escola aos alunos, porque a Escola é uma variável dependente.
Carlos Ricardo Soares
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