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segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Velha - I



O Velha apresentava-se sempre como Alberto Caeiro e dizia ser pastor de transístores. Para muitas pessoas isso correspondia ao anúncio de uma seita esotérica, religiosa ou política. Mas não era. O Velha não era pastor de uma seita, era mesmo pastor de rebanhos de ovelhas e de cabras. Com o tempo foi-se tornando também pastor de transístores e, pouco a pouco, declarava-se a si próprio como pastor de transístores que deixara de ser pastor de gado. Na infância foi pastor de gado. Nunca pertenceu a uma tribo. Aprendeu a viver sozinho e a lidar sozinho com os seus medos. Mais tarde frequentou a escola para adultos e descobriu que era Alberto Caeiro e que tinha mais que um heterónimo, sendo um deles Fernando Pessoa. Mas a maior descoberta da sua vida foi o transístor. Desde o dia em que o descobriu que passou a fazer-se acompanhar dele para os montes com os rebanhos. Assim que pôde comprou mais alguns e levava-os todos para os sintonizar em estações diferentes. Enquanto as ovelhas pasciam, colocava os transístores em posições estratégicas no solo e ouvia de tudo em simultâneo. Se mais estações de rádio houvesse mais transístores teria comprado.


3 comentários:

Tere Tavares disse...

Uma reformulação de personalidades, de um escritor que sem dúvida ouvia todas as estações, e tinha os transístores na alma, a fluir constantemente, sem interferências de quaisquer atmosferas que não fossem os seus rebanhos - o-velha-s que até hoje o seguem, porque lhe são gratas e fiéis. Grata Carlos pela partilha.
Abraço

Unknown disse...

"Quer mudar, sempre que lhe apetecer, a cor das paredes ou dos tectos da sua casa, dos vidros das janelas, dos electrodomésticos ou do seu carro? Num futuro próximo tudo isto será possível graças à última invenção de Elvira Fortunato e Rodrigo Martins: o transístor electrocrómico, que muda a cor a qualquer superfície contínua onde é implantado."

Não é que ao dar 'tratos à bola' lendo seu texto, intriguei-me com a disparidade entre a monotonia dos carneiros e o controle do fluxo de eletricidade?
Querendo descobrir ou antecipar o resultado, consegui saber que também poderemos além de controlar o fluxo, também o faremos com as cores. E daí a história pode pegar fogo.

Paranbéns, meu caro amigo, o texto não o renega nada. Abraços.

Maria Ribeiro disse...

Que estranho CAEIRO, Carlos!
Há tewmpos, havia a publicidade do pastor , QUE NÃO ERA PASTOR, mas tinha um telemóvel ,daqueles de 5Kgs...
LINDO trocadilho de "o- velha"...
ABRAÇO DE
Lusibero