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sábado, 8 de março de 2014

O sonho é vago mas a luz é forte


O sonho é vago
Mas a luz é forte
No mar de faúlhas
Lágrimas de sol poente

A vida passa
No horizonte de asas
Efémeras e tranquilas
De uma gaivota branca

Respira coração respira
Como se existisses desde sempre
Na alma do mundo
E nunca te esquecesses

E avista para lá das nuvens
O azul do céu mais matinal
Porque eu sei que um sonho 
É feito de muita ternura natural 

É quando te digo meu amor
E me enriqueço tanto por te ter
É quando desejo que o fragor das ondas 
Seja um hino todo nosso até morrer.


quarta-feira, 5 de março de 2014

Horizontes


A noite tem horizontes 
De olhos doces
Como o vapor da sopa 

No inverno
Luzes astrais 

No tecto falso 
Alcance ultramoderno
Dentro de muros 

Medievais
Quem mandou construir o castelo
Não chegou a vê-lo
Dentro da noite 

A escadaria
Termina 

Num oratório 
As sombras indecisas
Sem interior
Como azulejos
Ao gosto 

Da época
Revestem 
As paredes 

Que restam.


Carlos Ricardo Soares

domingo, 2 de março de 2014

As línguas do amor


Por favor
Fala-me todas as línguas
Do amor
Que há-de haver alguma
Que eu compreenda

Se me falares só uma
Talvez a não entenda

Se houver uma escola 
De línguas do amor
Ou de amor
Ou ao menos de uma das línguas 
Do amor
Eu quero aprender 

O amor fala todas as línguas
Que nós desconhecemos.


Carlos Ricardo Soares 

sábado, 1 de março de 2014

Não deixes


Não deixes que a palavra te corrompa

Como uma moeda falsa que depões
Na mão do diabo disfarçado de mendigo
Não deixes que a palavra se alimente da tua alma
Como um salmo se hospeda num sepulcro
E te enlouqueça e te leve o corpo
Não deixes que te o tire te o esqueça 
E te converta em espectro caiado
Sem sede nem fome
Sem nascente nem ocaso
Sem nome.

Carlos Ricardo Soares 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Sinto-me triste


                                         Estou triste
                                         Sinto-me triste
                                         Nas conclusões que tiro
                                         Até das coisas mais lindas
                                         Que tem a vida
                                         Sinto-me triste
                                         Por não sentir alegria
                                         Só de pensar
                                         Que as histórias
                                         Não têm final feliz.

O meu amor por ti


O meu amor por ti
Não é de perguntas
E de respostas
Não é estado
Nem condição
Triunfo
De coisa nenhuma
Canção
Por ti
Meu amor
Incrível flor
Sem terra
Que se abre
Débil
Esperança no deserto
Mais que o eco
Sobrevive
A certezas
Costumadas
Às palavras
Ao vento
À canção
Que mais ninguém ouve.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Caçador de manuscritos


Olho para este tempo de chuva
observo ventanias e ondulações
noite e dia à espera
da hora
de desfraldar as velas
e esquecer Palermo

precipitar-me-ei sobre manuscritos
onde reis depostos
fazem guerras para reconquistar
vésperas de terramotos

exortarei religiosos
a traduzirem suas vidas 
em versões 
dos livros sagrados

e aos homens de ciência
conferirei o poder
que não têm

para aceitarem a realidade
exceto a dos erros cometidos
que possam ser corrigidos

e exortarei a saberem lidar 
objetivamente
com conhecimento
e ciência do bem e do mal
sem cederem à tentação 
de manipularem os elementos
para qualquer fim

neste retiro forçado
noite e dia à espera
da hora
de desfraldar as velas
e esquecer Palermo.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O meu corpo

Agora
Deito o meu corpo
Cansado
O meu corpo
Que nunca foi
E não merece ser
Tratado como um fardo

Deito-o
Com cuidado
Que ele já não me ouve
Nem se segura
Do princípio ao fim
Da vida breve

Não o sinto pesado
Nem leve
Nem sei se dá por mim
É um corpo calado
Que nada me deve
E é tão bom assim.