Não te sintas à beira do abismo Se te oferecer dinheiro Como Se te oferecesse beijos Não te zangues Se te convidar Na paisagem esquecida e bravia Da tua alma A tornares-te desesperadamente Consciente Da tua nudez Dando-me beijos Como Se me oferecesses dinheiro.
Se tivesses uma morada ou telefone Que eu soubesse Um telemóvel ou e-mail que Provavelmente tens É improvável que escrevesse esta carta sem endereço Nem sequer a escreveria Faço-o porque não te conheço E sou fiel Ao sonho e mais profundo desejo Sem trair o anjo do meu cortejo E sem temer Vir-me a arrepender Pelo menos enquanto não te encontrar Se tivesse dúvidas sobre o ridículo das cartas de amor Elas cessariam com esta Não por ser simples carta de amor Mas por ser ao amor desconhecido Que confiança pode merecer-te alguém que viveu Oitenta anos sem te ter tido Ou que o afirma Mais indigno de ti Quem diz que amou sem te conhecer Ou quem não amou à espera que isso acontecesse Mas tu não vieste?
Falo daquelas ruínas e é de mim do que os nossos olhos não viram daquelas matérias-primas a propósito da construção do mundo do que restou dos perigos que é muito que é imenso mas não basta quando falo dessas coisas de factos e mais de ausências cruciais inexistências como se falasse de aparências sem alegria como se a poesia fosse o que falta à fantasia como se a fantasia fosse um estaleiro de sucata que avistamos da janela da prisão perpétua.
A noite tem horizontes De olhos doces Como o vapor da sopa No inverno Luzes astrais No tecto falso Alcance ultramoderno Dentro de muros Medievais Quem mandou construir o castelo Não chegou a vê-lo Dentro da noite A escadaria Termina Num oratório As sombras indecisas Sem interior Como azulejos Ao gosto Da época Revestem As paredes Que restam.