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domingo, 25 de agosto de 2024

Tesouros e paixões


A força da paixão

Quem a conhece?

Não estou a falar de objetivos

Nem de devaneios

Ou ambição

Diz-me se tens alguma paixão

Diz-me qual é a tua paixão

E talvez te compreenda melhor

Alguém que tem uma paixão

Tende a organizar a sua vida à volta dela

E vai sacrificando tudo por ela

Paixão não é o mesmo que objetivos

As pessoas tendem a organizar a vida

Em função de objetivos convenientes

Ou planos eficientes de realização

De vantagens de sobrevivência

Mas paixão é diferente

Sobrevive-se para ela

É pessoal e pode ser impercetível

Para os outros

Pode ser desastrosa como um vício

Ou uma dependência muito forte

Muitas vidas e muitos destinos

São decididos ou sacrificados a paixões

E não há como lamentar certas paixões

De artistas e de estudiosos

De poetas e sonhadores

O amor ardente dos criadores

Que estão fascinados

Como abelhas obreiras

Com a realização de uma grandeza

Que colocam sempre em primeiro lugar

Porque dá à própria vida

O sentido que almejam dar.


             Carlos Ricardo Soares

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A coisa e "a coisa em si"


O real é uma experiência

De outro mundo

Que faz perder o pé

Quando procuras saber

Como deve ser

O que é.


           Carlos Ricardo Soares

sábado, 10 de agosto de 2024

Leis de acontecer o que aconteceu


As coisas acontecem

Por elas próprias

O tempo passa

Enquanto tento perceber

Porque é que tudo o que faça

Se puder

Só pode alterar a forma

E não a matéria

De acontecer

E chamam a isso

Leis da natureza

Do ser

Mas não acho graça

Não deve ser assim

O nada

Impopular

Vazio do homem


                        Carlos Ricardo Soares

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Aproximações à verdade XXVIII


Hilário: sortudos são os que prescindem de mercado e de público, porque se contentam a si mesmos

Amiga: e há alguém assim?

Hilário: não sei, mas parece que concordas com a minha bem-aventurança

Amiga: estás a colocar uma questão dos diabos porque, se as pessoas se contentassem a si próprias, não se esforçavam tanto para ganhar os mercados e as aprovações dos outros

Hilário: o reconhecimento daquilo que se faz nem sempre acompanha o valor e o mérito daquilo que se faz

Amiga: tu passaste a vida inteira a preparar-te para fazeres o cristo nas argolas e, agora que deixaste as competições, de que é que te serve?

Hilário: eu ainda estou para perceber por que razão investi uma vida numa habilidade que só tem valor como espetáculo, se for bastante espetacular, caso contrário...

Amiga: nunca pensaste que estavas a desenvolver uma arte para teu próprio prazer e realização pessoal, como por exemplo, a poesia, ou a música?

Hilário: em momento algum pensei que passaria o resto da vida a divertir-me com as habilidades adquiridas na alta competição

Amiga: não é coisa que uma pessoa aprenda a fazer com o objetivo de se divertir e de ocupar os tempos livres

Hilário: ao menos, tu tiraste um curso e fizeste sempre tudo pelo prazer de satisfazer a tua curiosidade e de mostrares a ti mesma que eras capaz de algo importante

Amiga: deves estar a brincar, não?

Hilário: o mais importante é a satisfação e os frutos que podes colher daquilo a que te dedicas

Amiga: infelizmente, as pessoas falam muito nesse sentido, sem porem a tónica naquilo que fazem, se gostam ou não, se se sentem realizadas, se se sentem bem, para não dizer felizes.

Hilário: o que me faria feliz, não sei. O que me faz feliz é ter a possibilidade, em cada momento, de procurar e de obter satisfação para as necessidades e para aquilo que devo pensar e fazer

Amiga: também podes encontrar isso num emprego

Hilário: dadas as circunstâncias atuais, talvez tenhas razão. Mas depende muito mais do que são as minhas necessidades do que daquilo que posso fazer para as satisfazer

Amiga: seja como for, o problema de se contentar a si mesmo sem ser através dos outros, pelos outros, é algo enigmático e redutor e apresenta-se como hostil, mesmo que a intenção seja simplesmente prescindir dos outros, como se os aliviasses de um peso que, no fundo, tomas para ti, sem que te agradeçam.

                                  Carlos Ricardo Soares

domingo, 21 de julho de 2024

Aproximações à verdade XXVII


Amiga: já tens ideias para o que vais fazer este verão?

Hilário: um dia saberás

Amiga: eh lá, isso até parece o título de um romance

Hilário: quem sabe se já foi ou ainda será?!

Amiga: a única coisa que sempre quis e ainda não realizei

Hilário: um romance

Amiga: tu sabes: escrever um romance

Hilário: tens todas as condições para isso

Amiga: a imaginação não basta

Hilário: mas é necessária, ninguém escreve um romance do que lhe aconteceu

Amiga: é isso, comigo não acontece nada, mas imagino tantas coisas?!

Hilário: aproveita as férias

Amiga: ando com ideias para o meu romance “Um Verão a dois”

Hilário: mal posso esperar para ler

                    Carlos Ricardo Soares

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Em nome próprio


Enquanto abanas a cabeça para significar sim, ou não, ou dizes, ou escreves, sim ou não, ordenas isto ou aquilo, porque podes dar ordens, apontas isto ou aquilo, descreves, ou declaras uma intenção, ou vontade, narras uma ação ou apresentas uma queixa, respondes a um teste sobre uma matéria, proferes uma lição, ou aula, ou pregas um sermão numa igreja, fazes um comício num partido, ou falas sobre as coisas, com todas as dificuldades inerentes à linguagem e à necessidade de te fazeres entender, já deves ter compreendido muitas vezes como é diferente e desafiador poderes dirigir-te ao público, sem ser em nome de um Deus, ou de um autor, ou de uma autoridade, manual ou enciclopédia, ou catecismo, escola, ou partido, movimento ou ideologia, como se os representasses dentro dos limites de um mandato, ou procuração, que devesses respeitar.
Certamente já pensaste no que poderá ser diferente disso, e nas implicações possíveis, de pensares e manifestares-te em nome próprio, nem que seja uma vez na vida.
Eu senti a necessidade de me posicionar e de me manifestar, em nome próprio, desde que comecei a escrever poemas e textos reflexivos.
E esta necessidade foi sendo mais acentuada quanto mais, por razões académicas e profissionais, me sentia vinculado ao dever de representar os autores e as disciplinas, interpretar as normas e os códigos, procurando, tanto quanto possível, não trair a letra e o espírito do seu pensamento.
Mas, chegado o momento de falar em nome próprio, em boa verdade, de que é que se pode falar e o que se pode dizer, propriamente dito?

Carlos Ricardo Soares

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Aproximações à verdade XXVI


Hilário: qualquer pessoa sabe muito mais do que sabe que sabe

Amiga: muito mais e para além

Hilário: mas vale a pena dedicar atenção e pensar acerca do assunto

Amiga: isso é metacognição e é essencial na aprendizagem

Hilário: saber mais do que sabemos que sabemos é apenas um efeito de não ser possível monitorizar completamente a nossa memória, seus repertórios e processos de pensamento

Amiga: uma grande preocupação com a metacognição pode sobrecarregar a memória com problemas meramente teóricos e intelectuais

Hilário: em casos extremos pode ser paralizante, se tentares monitorizar comportamentos reflexos ou de rotina

Amiga: se sempre que deres um passo quiseres ter o controlo de tudo o que está a acontecer e, ao mesmo tempo, quiseres ter o controlo do que estás a perder por não pensares noutras coisas, etc, o melhor é “delegares” certas tarefas a esses operadores automatizados

Hilário: não conseguiríamos fazer o que fazemos se muitas das tarefas não fossem resolvidas por hábito, sem termos que pensar

Amiga: por hábito, por instinto, por natureza

Hilário: mas muitos dos nossos hábitos começaram por ser atos pensados que fomos repetindo até termos a sensação de que fazemos as coisas sem termos de pensar nelas

Amiga: o homem é um animal de hábitos

Hilário: se fossemos capazes de reforçar positivamente apenas bons hábitos e de reforçar negativamente os maus, a vida seria mais fácil

Amiga: isso permitir-te-ia a proeza de seres feliz sem pensares que o eras, sem teres a noção

Hilário: não sei se gostaria de me habituar a não ter que pensar

Amiga: eu fui-me habituando a pensar cada vez mais em tudo.

                 Carlos Ricardo Soares 

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Sobre a anatomia do pensamento

Sabemos o que é a lógica? Existe lógica sem uma linguagem? 

Não confundamos racionalidade, consciência e lógica. Esta é um fenómeno linguístico, a racionalidade não. 

Quanto ao pensamento, ele começa por se estruturar na consciência e na racionalidade, mas só se torna um problema de lógica com a linguagem. 

Esta é a minha tese sobre a anatomia do pensamento.

             Carlos Ricardo Soares