sábado, 28 de março de 2015
O poema
Independentemente dos significados, que em poesia pode ser o menos importante ou o menos interessante, o poema toma o leitor por alguém que se vê, inopinadamente, diante de verdades e cenários que se lhe escondiam e que ele, em sonhos, sempre soube que existiam.
segunda-feira, 2 de março de 2015
Olhos de ver
Não vou entregar-me
à tristeza
ela é asa
cansada
sobre o mar
seduz
a certeza do vento
sopra
um mistério
empedernido
não vou sequer escutar
não vou ter o prazer
da música
dos abismos
vou resistir
ao apelo da tristeza
como quem resiste
ao adeus
e fica triste.
à tristeza
ela é asa
cansada
sobre o mar
seduz
a certeza do vento
sopra
um mistério
empedernido
não vou sequer escutar
não vou ter o prazer
da música
dos abismos
vou resistir
ao apelo da tristeza
como quem resiste
ao adeus
e fica triste.
Carlos Ricardo Soares
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Só
Podia ser
um laivo
do que nasce
só
a palavra
como o sol
nascente
só
a memória
confusa
iluminasse
o presente
podia ser
um laivo
de saudade.
do que nasce
só
a palavra
como o sol
nascente
só
a memória
confusa
iluminasse
o presente
podia ser
um laivo
de saudade.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Ficar no poema
Dói não poder
ficar no poema
se fica num tempo
inexplicável
como uma paisagem
se nos depara
nos prende
numa viagem
que ainda não é de regresso.
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Mel e Sal
Mel
não dorme
Sal acorda
Mel faz um balanço da sua vida
tem a percepção de que viveu
obcecada
com sexo comida bebida guloseimas
esconderijos sombras e
penumbras
mais do que ações e intervenções sociais
como se tivesse vivido dentro
de um filme
de uma narrativa destituída de outros valores que não fossem o
afecto
o erotismo a sensualidade a gula
enfim todos os pecados
tudo o
mais que saísse disso lhe parecera sempre aborrecido
e insuportável
entregava-se de preferência a devaneios sem fim
e procurava livros que lhe
alimentassem essa espécie de vício
passou por todas as dependências de quem
busca
o prazer antes de tudo
e nunca se libertou de nenhuma
nem quando corria
perigo de vida
e o médico alertava
de D. Quixote
Mel nunca teria a alucinação
do cavaleiro corajoso e valoroso
considerava essa faceta desinteressante
Mel
não tinha nenhuma espécie de megalomania
e nunca aspirara a outra grandeza
que
não fosse todas as formas de prazer
com o tempo
tornou-se colecionadora de
receitas de prazer
e se dedicava algum tempo a isso
e a hierarquizá-las
era em
vista do prazer
Mel não sentia prazer nela própria
nunca pensaria nem diria
como o poeta
“sinto-me confortável e feliz comigo próprio”
a felicidade e o
prazer eram exteriores
estavam em coisas e pessoas
dentro dela havia a
carência
o desejo a fome
a paixão o vício
e sentia raiva
sempre sentiu por haver tantos interditos
tantas proibições
tantos limites
tantos
entraves
tantas obstruções
Mel achava que a cultura era uma tentativa de dar
espaço a algo
mais do que regras de conduta e objetivos económicos.
sábado, 13 de dezembro de 2014
Porque o amor deslumbra
Qualquer hora
tem eternidade
dentro
do indistinto dia
da noite
indistinta
tem esfinges que admito
serem
da minha idolatria
te sinto
na vastidão do sempre
aonde a memória
se perde
algum mar
começa
naquela lua
das palavras a nos esperar
ou nós a elas
tudo é
sem janelas
e nós o lugar.
tem eternidade
dentro
do indistinto dia
da noite
indistinta
tem esfinges que admito
serem
da minha idolatria
te sinto
na vastidão do sempre
aonde a memória
se perde
algum mar
começa
naquela lua
das palavras a nos esperar
ou nós a elas
tudo é
sem janelas
e nós o lugar.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Foi tanto o prazer
Foi tanto o prazer
foi tanta a paz
foi tanta a promessa
e a plenitude
nessa única tarde
as coisas
tinham memória
de sermos mais
que a verdade
à nossa volta
a poesia
do que éramos
tudo sentia
o que não podíamos.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
As línguas do amor
Por favor
Fala-me todas as línguas
Do amor
Que há-de haver alguma
Que eu compreenda
Se me falares só uma
Talvez a não entenda
Se houver uma escola
De línguas do amor
Ou de amor
Ou ao menos de uma das línguas
Do amor
Eu quero aprender
O amor fala todas as línguas
Que nós desconhecemos.
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