terça-feira, 21 de novembro de 2023
terça-feira, 14 de novembro de 2023
Aproximações à verdade XXIII
sábado, 4 de novembro de 2023
A racionalidade, de mecanismo básico de sobrevivência a faculdade de pensamento e inteligência
Darei por muito bem aplicado o meu propósito de contribuir com algumas notas relativas ao que penso sobre os temas da racionalidade e da liberdade, da racionalidade como faculdade
humana de sobrevivência, de conhecimento e de inventividade, e da liberdade como exercício de racionalidade.
São temas charneira do meu pensamento sobre o que é “ser humano”. Distinto deste é o problema de saber o que é “o ser humano”.
A
minha tese é que a racionalidade é um mecanismo básico de sobrevivência, que os humanos aplicam a uma vastíssima gama de situações, muitas das quais não têm a ver
com a sobrevivência, mas resultam de fatores culturais.
Um indivíduo humano que não tenha a faculdade de racionalidade, dificilmente sobreviverá sem a ajuda dos outros. E, se for um indivíduo
de outra espécie não conseguirá sobreviver.
A consciência da racionalidade permite aplicá-la a todo o tipo de situações, concretas ou ficcionadas, seja através de
imagens, palavras, números, enfim, a racionalidade pode transformar tudo em linguagem e a linguagem, em praticamente tudo.
Pode multiplicar e desmultiplicar mundos e visões.
A racionalidade permite-nos escolher, dentro dos limites das possibilidades e estas variam muito de indivíduo para
indivíduo, por fatores individuais endógenos e exógenos.
A liberdade é um exercício de racionalidade. Dizemos que não temos liberdade quando não podemos escolher. Esta falta de liberdade pode ser total, ou absoluta,
quando não podemos escolher de todo, ou parcial, quando temos um leque de opções, mais ou menos extenso e variado.
Se os limites nos são impostos naturalmente, isso é um constrangimento
natural, se nos forem impostos por outros indivíduos, ou pela sociedade, isso é um constrangimento social, político, cultural, ético, jurídico. Os limites morais são os que o indivíduo
estabelece para si mesmo.
A questão dos limites morais coloca-se quando existe possibilidade de não respeitar os limites parciais ou relativos que são impostos pela sociedade, ou por outros indivíduos.
A
racionalidade exerce-se, ou opera sobre dados, ou termos discerníveis. Podem ser sons, números, volumes, palavras, sinais, quantidades, qualidades, enfim, tudo o que conhecemos e tudo o que se possa imaginar.
Esta liberdade de pensamento é ilimitada, no sentido em que só tem como limite a capacidade de estabelecer relações.
A racionalidade é pensamento e, como o pensamento, também
é ilimitada quanto ao campo da sua aplicação, exercício, ou operação.
A liberdade é uma condição biológica, viva, concreta, física, que pode
ser ilimitada quanto ao pensamento, mas é limitada por fatores endógenos e exógenos que podem assumir natureza física, mais ou menos inelutável, como já referi.
A faculdade de racionalidade, que permite distinguir e estabelecer relações entre coisas, ideias, enfim, tudo o que seja suscetível de ser
percecionado, pensado ou ter significado, nos humanos, pode operar sobre vastíssimos domínios, ou objetos, não apenas da experiência direta dos sentidos periféricos, mas também da experiência
indireta das representações mentais, das ideias, dos números, das formas, dos conceitos, das teorias, das crenças, dos interesses, dos valores, dos sentimentos, dos significados e dos sentidos que
se dão.
Certamente que essa faculdade não é conhecimento, nem resolução de problemas, mas não há conhecimento, ou seja, ninguém poderá ter a experiência
de conhecimento, se não tiver a aptidão, ou estiver impedido, de usar a faculdade de racionalidade.
O uso que se faz dos termos racionalidade e irracionalidade é tão amplo e, por vezes, tão
contraditório, que apresenta a racionalidade como boa e a irracionalidade como nefasta, sendo esta, tantas vezes, acusada de todos os males que se poderiam imputar aos humanos.
Encontro uma justificação
plausível para este entendimento. Em geral, confunde-se racionalidade com verdade, com o que está certo, com retidão, com direito, com ciência, com aquilo que resolve problemas, que tudo devia, ou
deve ser. Irracional é o resto, o que está errado, que é nocivo, que é perigoso, que causa problemas, que é injustificado, independentemente de ser censurável ou não.
Este
uso, tão arreigado nos nossos hábitos de comunicação e de linguagem corrente, dificulta, se é que não impede, que vejamos a racionalidade com outros olhos, ou seja, que entendamos
a racionalidade como a faculdade humana que está presente em toda a ação dos indivíduos, de tal modo que muito daquilo que designamos como irracional, de facto é tão racional como
aquilo que designamos propriamente de racional.
O cerne dos problemas da humanidade, resultantes dos seus comportamentos ou produzidos por estes, não está no serem estes racionais ou não, está
no serem problemas.
Carlos Ricardo Soares
São temas charneira do meu pensamento sobre o que é “ser humano”. Distinto deste é o problema de saber o que é “o ser humano”.
A minha tese é que a racionalidade é um mecanismo básico de sobrevivência, que os humanos aplicam a uma vastíssima gama de situações, muitas das quais não têm a ver com a sobrevivência, mas resultam de fatores culturais.
Um indivíduo humano que não tenha a faculdade de racionalidade, dificilmente sobreviverá sem a ajuda dos outros. E, se for um indivíduo de outra espécie não conseguirá sobreviver.
A consciência da racionalidade permite aplicá-la a todo o tipo de situações, concretas ou ficcionadas, seja através de imagens, palavras, números, enfim, a racionalidade pode transformar tudo em linguagem e a linguagem, em praticamente tudo.
Pode multiplicar e desmultiplicar mundos e visões.
A racionalidade permite-nos escolher, dentro dos limites das possibilidades e estas variam muito de indivíduo para indivíduo, por fatores individuais endógenos e exógenos.
A liberdade é um exercício de racionalidade. Dizemos que não temos liberdade quando não podemos escolher. Esta falta de liberdade pode ser total, ou absoluta, quando não podemos escolher de todo, ou parcial, quando temos um leque de opções, mais ou menos extenso e variado.
Se os limites nos são impostos naturalmente, isso é um constrangimento natural, se nos forem impostos por outros indivíduos, ou pela sociedade, isso é um constrangimento social, político, cultural, ético, jurídico. Os limites morais são os que o indivíduo estabelece para si mesmo.
A questão dos limites morais coloca-se quando existe possibilidade de não respeitar os limites parciais ou relativos que são impostos pela sociedade, ou por outros indivíduos.
A racionalidade exerce-se, ou opera sobre dados, ou termos discerníveis. Podem ser sons, números, volumes, palavras, sinais, quantidades, qualidades, enfim, tudo o que conhecemos e tudo o que se possa imaginar. Esta liberdade de pensamento é ilimitada, no sentido em que só tem como limite a capacidade de estabelecer relações.
A racionalidade é pensamento e, como o pensamento, também é ilimitada quanto ao campo da sua aplicação, exercício, ou operação.
A liberdade é uma condição biológica, viva, concreta, física, que pode ser ilimitada quanto ao pensamento, mas é limitada por fatores endógenos e exógenos que podem assumir natureza física, mais ou menos inelutável, como já referi.
A faculdade de racionalidade, que permite distinguir e estabelecer relações entre coisas, ideias, enfim, tudo o que seja suscetível de ser percecionado, pensado ou ter significado, nos humanos, pode operar sobre vastíssimos domínios, ou objetos, não apenas da experiência direta dos sentidos periféricos, mas também da experiência indireta das representações mentais, das ideias, dos números, das formas, dos conceitos, das teorias, das crenças, dos interesses, dos valores, dos sentimentos, dos significados e dos sentidos que se dão.
Certamente que essa faculdade não é conhecimento, nem resolução de problemas, mas não há conhecimento, ou seja, ninguém poderá ter a experiência de conhecimento, se não tiver a aptidão, ou estiver impedido, de usar a faculdade de racionalidade.
O uso que se faz dos termos racionalidade e irracionalidade é tão amplo e, por vezes, tão contraditório, que apresenta a racionalidade como boa e a irracionalidade como nefasta, sendo esta, tantas vezes, acusada de todos os males que se poderiam imputar aos humanos.
Encontro uma justificação plausível para este entendimento. Em geral, confunde-se racionalidade com verdade, com o que está certo, com retidão, com direito, com ciência, com aquilo que resolve problemas, que tudo devia, ou deve ser. Irracional é o resto, o que está errado, que é nocivo, que é perigoso, que causa problemas, que é injustificado, independentemente de ser censurável ou não.
Este uso, tão arreigado nos nossos hábitos de comunicação e de linguagem corrente, dificulta, se é que não impede, que vejamos a racionalidade com outros olhos, ou seja, que entendamos a racionalidade como a faculdade humana que está presente em toda a ação dos indivíduos, de tal modo que muito daquilo que designamos como irracional, de facto é tão racional como aquilo que designamos propriamente de racional.
O cerne dos problemas da humanidade, resultantes dos seus comportamentos ou produzidos por estes, não está no serem estes racionais ou não, está no serem problemas.
Carlos Ricardo Soares
sexta-feira, 27 de outubro de 2023
O Direito é o limite
Se a humanidade se autodestruir e destruir o mundo que criou, podemos dizer que será a natureza a fazê-lo e nem ficará natureza que possa lamentar isso ou acusar alguma natureza disso, admitindo nós que o homem é o tal expoente da natureza capaz de fazer essa avaliação.
O ser humano não tem as faculdades e as liberdades e as capacidades de outros elementos da natureza, mas tem algumas que são únicas e que são incomparáveis, como a consciência, a racionalidade e a liberdade de escolha (dentro das possibilidades). Não temos o poder de um vulcão, ou de um tornado, ou de uma estrela que explode, mas temos a capacidade de usar ou não a bomba atómica.
Se não soubermos reconhecer até que ponto está nas nossas mãos preservar, não a nossa natureza geral que, independentemente da nossa vontade, será sempre transformada numa massa natural, como já agora é quando morremos, mas a nossa natureza particular de seres vivos conscientes, racionais, livres, podemos deitar a perder aquilo que, pela própria natureza das coisas e da racionalidade, teremos o poder, mas não o direito de fazer.
O Direito é a fronteira que o homem não pode ultrapassar, que o separa da sua própria natureza, sob pena de se negar a si mesmo.
Carlos Ricardo Soares
terça-feira, 24 de outubro de 2023
A tirania do mérito e a meritocracia
É da máxima importância que os poderes políticos, a quem cabe a governação e a implementação de mecanismos de incentivo ao desenvolvimento, porque é incontestável que este pode e deve ser promovido pelo Estado, assumam as questões do mérito num plano em que o mérito é das variáveis em que o poder político terá mais hipóteses de contribuir para a realização dos seus objetivos de boa governação, de promoção da ciência, tecnologia e cultura para o desenvolvimento do país.
O próprio conceito de mérito é rebelde às tentativas de o reduzirmos à ideia de merecimento pelo esforço, pela dedicação, ou pelo trabalho. Nesta perspetiva, o mérito de um perdedor numa competição pode ser maior do que o do vencedor.
Nas sociedades liberais, e nas outras não será muito diferente, o resultado, o produto, a mais-valia, a virtude, e o próprio talento individual, tendem a ser critério de mérito daqueles a quem sejam devidamente imputados. Normalmente é o mercado que trata disso. E como nem todo o resultado, ou produto, ou atividade, têm o mesmo valor, num determinado momento, ter mérito não significa a mesma coisa para duas situações diferentes.
O mérito do marcador do golo não tem o mesmo valor do mérito do colega que lhe passou a bola para ele marcar. No entanto, mesmo nestes casos do desporto, o mérito de quem passou a bola pode ser reconhecido por toda a gente como muito superior ao de quem marcou. Neste exemplo, e noutros, o mercado não reconhece o mérito pelo valor funcional, pessoal, social, estético, ou mesmo ético. O mercado é cego relativamente a isso.
O mercado só tem olhos para o valor de mercado, ou seja, que se exprime em unidades monetárias. E não será porque se apele à boa vontade dos agentes económicos que estes passarão a atribuir mais valor monetário a alguém pelo mérito (não monetário) de algo que faça.
Assim, temos um desencontro, muito inconveniente para a sociedade e para a promoção dos seus pilares de sustentação e de desenvolvimento, entre aquilo que, sendo de reconhecido mérito, humano, social, cultural, científico, estético, ético, o não é efetivamente no plano do reconhecimento económico.
Por outro lado, este desencontro vai-se exacerbando à medida que contribui para reforçar os investimentos e as atenções e as expectativas, não tanto naqueles méritos, que o são reconhecidamente como vitais, mas preferencialmente nos outros.
As implicações negativas, para a economia e para o desenvolvimento social, deste fomento induzido pelo mercado, podem e devem ser contrariadas pela ação e pela intervenção do Estado, nomeadamente, através de políticas de incentivo e apoio, através do reconhecimento pessoal e patrimonial do mérito.
De preferência, passe o sarcasmo, que não se limitasse a atribuir medalhas de mérito, ou de mérito póstumo e que não fossem para quem já teve o seu mérito reconhecido.
Carlos Ricardo Soares
quinta-feira, 12 de outubro de 2023
Aproximações à verdade XXII
Hilário: amar é pelo bem que sabe, pelo gosto que dá
Amiga: e o sabor que tem
Hilário: pela vontade que há, pela ideia que se faz do que é
Amiga: que será
Hilário: pela falta que faz o bem desejado
Amiga: pela dor persistente do amor ausente
Hilário: amar é pelo próprio poder de escolher
Amiga: pela liberdade de fazer
Hilário: pelo prazer de dar prazer
Amiga: ser amado é ser escolhido
Hilário: ninguém pode escolher ser amado
Amiga: quem quer ama
Hilário: não é amado quem quer
Amiga: ninguém tem esse poder
Hilário: ninguém tem o direito de ser amado
Amiga: mas temos o dever de amar
Hilário: e, se não amares, que te pode acontecer?
Amiga: sabes a resposta ou perguntas para saber?
Hilário: sempre amei, não sei o que é não amar
Amiga: o mesmo digo eu, tenho experiência de amar e de odiar, mas não isso de não amar
Hilário: no entanto, há muitas pessoas que não amas nem odeias
Amiga: há, haverá e sempre houve, podemos amar quem não conhecemos?
Hilário: isso do conhecer é muito relativo, até que ponto se pode conhecer alguém?
Amiga: voltando ao dever de amar, em que é que consiste, se é que existe?
Hilário: nem as autoridades, nem a polícia, te perguntam se amas ou deixas de amar e não há sanções para isso
Amiga: não perguntam, nem estão autorizadas a fazê-lo, até o tribunal está inibido de se meter nesses assuntos, porque não há leis sobre o direito e o dever de amar e o tribunal trata de leis
Hilário: nunca ouviste falar na lei do amor?
Amiga: já estava à espera dessa, do dever de amar a Deus sobre todas coisas
Hilário: e ao próximo, como a si mesmo
Amiga: acreditas nessa lei? Que tens esse dever e que, se tens esse dever, então toda a gente tem ou que, se toda a gente tem esse dever, então tu também tens?
Carlos Ricardo Soares
terça-feira, 10 de outubro de 2023
Os humanos são incorrigíveis?
É com grande amargura e desgosto que penso que as guerras têm de ser encaradas como uma fatalidade, pelo menos, depois de começarem.
São como as catástrofes que não somos capazes de evitar. No caso das guerras a catástrofe é o próprio “elemento” humano. Não é uma catástrofe como
as naturais, que são desencadeadas por ocorrências físicas meramente mecânico-causais. No caso das guerras, a catástrofe não é apenas uma consequência da acção
humana, é um objectivo clara e expressamente assumido.
Os que se preparam para a guerra e a desencadeiam nem sequer o fazem em segredo, porque antes de acontecer ela se anuncia, de variadas formas que os especialistas
não podem ignorar. Dir-se-ia que a guerra começa muito antes de acontecer, como todas as catástrofes. Quem desencadeia uma guerra, sobretudo se é uma grande potência no xadrez internacional,
sabe o que lhe pode acontecer e sabe o que lhe vai acontecer, porque o que puder acontecer-lhe vai acontecer-lhe e ela sabe. As catástrofes não duram sempre. Uma catástrofe não é um triunfo
sobre nada, nem ninguém. No fim da catástrofe, triunfam os que sobrevivem.
Quem desencadeia uma guerra sabe que não sobreviverá a essa catástrofe, que vai ser derrotado e aniquilado
pela derrocada dos explosivos que activou. As guerras, ainda antes de começarem verdadeiramente, já o são como ameaças das consequências que virão a ter. O amor, pelo contrário,
quando começa não ameaça nada. Sabendo disto, os profissionais da guerra deviam evitar, até por dever profissional, promover condições que se tornarão trágicas para os
outros, para aqueles que não gostam, nem precisam de guerras, porque viver e deixar viver é melhor do que impedir de viver.
Para fazer guerra, ou melhor, para desencadear uma guerra, é preciso mais,
muito mais do que animalidade, ou instinto de sobrevivência. E é preciso mais, muito mais, do que racionalidade ou sentimentos.
A hostilidade, o ódio, o medo galvanizador, o calculismo e o ressentimento
promovido e alimentado por narrativas delirantes, ou pelo delírio narrado, prefiguram de tal modo as ameaças do abismo, que a dinâmica política, militar e social é contaminada e arrastada
pelo desespero de causa. A serenidade e a frieza tornam-se impossíveis no momento em que mais vantagem podiam ter e mais falta fazem.
Uma guerra não começa se não houver contendores, partidos,
rituais, gregarismo, armas, embriaguez, crença nas representações das hostes, do inimigo e, se não houver um desejo de vitória pela força, há certamente um furor orquestrado
para infligir dor e sofrimento.
Depois de começar, uma guerra é um monstro que não precisa de mais nada que o desejo de vingança, e esse vai crescendo sempre, nos beligerantes.
A guerra
é humana. Paradoxalmente, é desumana. Por ser tão temível e tão horrível é que os humanos acreditam no poder da guerra.
Os humanos têm-se revelado incorrigíveis,
ao longo da história, comportando-se como se estivesse nas suas mãos fazer a guerra, mas não a paz.
Carlos Ricardo Soares