Amiga: os sábios diziam “não há fumo sem fogo” mas, afinal, o que mais vemos é que há fumo sem fogo
Hilário: e não é apenas como o velho ditado de que “as aparências iludem”
Amiga: ou que “vemos caras mas não vemos corações”
Hilário: ou que “as coisas não são o que parecem”
Amiga: até nesse aspeto o mundo já não é o que era
Hilário: e nunca foi, nós é que pensávamos que sim, que as coisas tinham de ser como são
Amiga: e isso significava que eram como sempre tinham sido e como sempre seriam
Hilário: hoje sabemos que “as coisas não têm de ser como são”
Amiga: isso é o título do livro de que já temos falado
Hilário: já vou no volume III, mas pode ser lido por qualquer ordem
Amiga: o principal argumento do autor não é sobre a suscetibilidade de as aparências não corresponderem à realidade, ou de esta não nos aparecer de uma determinada forma
Hilário: para mim é claro que o autor não se preocupa com isso, mas com o facto de que os humanos têm a extraordinária aptidão e capacidade de moldarem o mundo em seu redor e de o poderem fazer melhor do que fazem
Amiga: esse aspeto é muito diferente da questão das aparências e é surpreendentemente promissor de implicações teóricas e práticas
Hilário: uma implicação incrível é que, se os humanos podem fazer melhor, e o autor convence-nos disso, então devem fazer melhor
Amiga: como é? Se podemos fazer, devemos fazer?
Hilário: sabes bem que não é assim. Podes fazer pior, ou ficar quieta, que não deriva daí um dever de fazeres pior, ou de nada fazeres
Amiga: o dever surge da consideração, da constatação, ou da consciência da possibilidade de fazer melhor?
Hilário: lembras-te da canção “para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim”?
Amiga: fiquei a matutar agora naquilo de o dever surgir da possibilidade de fazer melhor
Hilário: o autor daquele livro dá uma explicação brilhante e muito sucinta, embora recorra a ela em muitos dos textos que o compõem.
Carlos Ricardo Soares
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