I
Nem por sombras devemos
pisar
presenças indefesas
que não vemos
nem com toda a suavidade
tocar a textura
de felgas que tombam
ao menor sopro
II
não devemos morder
nenhum enigma amistoso
nem com toda a delicadeza
ralhar
às artes impossíveis
nem com a polidez surda
de tanta mágoa
cegos de tanto carpir
sobre muros de água
III
não devemos afluir
ansiosos
pela tangência das pegadas
para não pisarmos a cauda impalpável
de eternidades
adiadas
IV
não devemos macular
nem com um dedo fantasma
uma casta amorosa
sem temermos não ser entendidos
na enologia dos bagos
do afeto
das castas espontâneas
sem sermos reconhecidos
à entrada dos recintos
dos pontos cardeais
e despojados da santologia
do ouro e dos cristais
dos estandartes
de castas virtudes
de poentes de gala
a alvoradas de castiçais
V
não devemos cantar
nem conspurcar nada
nem a ferruginosa fadiga
dos que aguardam nos degraus
das alfândegas da fé
até se tornarem suspeitos
de estarem perdidos
VI
não devemos rogar
para sermos levados
para lugares ainda mais desconhecidos
que os não encontrados
VII
não devemos confiar
que tudo seja como assisadamente
sentimos o mosto
de gentilezas irrecuperáveis
da musa amiga minha
nem perguntar aos claustros
que encontraremos no caminho
das nossas tristezas
que graças libertinas
serão os nossos pulmões
no silêncio das visões
da vida interior
que ecos ouviremos
ao pensar no amor.