sábado, 24 de setembro de 2022
sexta-feira, 16 de setembro de 2022
INCOMPLETUDES
Se o amor
Enquanto esperavam à chuva
Fosse ministro de algum abrigo
Ou abrigo de algum ministro
A haver governo algures
Em tempo sinistro de encargos
Andaria atrás de um caderno
Perdido
De versos copiosamente amargos
Em seu labirinto construído
De perversos aliados
Tremendo dos artelhos
De medo talvez de frio
Da sua sombra nua
Procurasse o sol
De algum pavio
Quiçá da lua
Em troca de existir
Para se aquecer
Sem cair na rua.
sábado, 10 de setembro de 2022
Quase só fragilidades
Em algum recanto obscuro
Lá muito atrás no tempo
Perdemos a memória
O nosso amor e a nossa paz
Perturbados pela surpresa
De um mundo inesperado de hostilidades
Engendrado pela nossa frustração
E pelo alerta
Pela desconfiança das plantas
E animais
E restantes elementos naturais
Que no nosso âmago
Amamos
E pela decepção de sermos repelidos
E mordidos
Envenenados acossados infectados
Feridos
Esmagados afogados queimados
Em cenários de acidente
Tempestade ou guerra
Ou simplesmente
Na tragédia silenciosa
Na doença
E pela descoberta de que éramos
Quase só fragilidades
E a necessidade de nos rodearmos
Da atenção e do carinho
Uns dos outros
Para nossa protecção
E para sermos mais fortes
No desgosto de não podermos abraçar
Sem medo e precaução
Todos os seres
Vivos e os demais
Que amamos à nossa maneira
Talvez errada
Por não ser mais.
terça-feira, 30 de agosto de 2022
sexta-feira, 26 de agosto de 2022
Ensinar e educar
Educar, todos e tudo educa.
Cuidado com a educação. Quem não se queixa da educação que recebeu (o termo é muito significativo
e carregado de tradição) ainda deve estar mais de sobreaviso.
Ensinar é mais complexo, mais solidário, mais honesto, mais explícito, mais confiável, mais amigável, mais
avisado, mais avançado, mais revolucionário.
Putin educa, Hitler educou, Estaline dava isso como garantido e os religiosos sempre puseram todas as fichas na mesa das apostas da educação para
concretizarem os desígnios divinos.
Ensinar é outro negócio, é outra história, é outra narrativa. Se não é oposta a educar, pelo menos é crítica, contestatária,
muitas vezes feita à revelia da educação oficial.
Educar é perigoso, ensinar é promissor. Transmitir valores, crenças, normas de conduta é algo que se tem revelado catastrófico,
trágico, incurável, abominável, fatal. É certo que há sempre o outro lado da medalha. É o apelo aos valores que mobiliza para a guerra e para a vitória. Uma bomba lançada
sobre o inimigo é um acto sublime. Uma bomba lançada pelo inimigo é um acto cobarde e imperdoável.
Não devemos combater uma crença com outra crença? Ou seja, não
devemos combater? E temos outro remédio?
Há os que educam, por exemplo, para agradar e obter as bençãos do Sr. Abade, ou do Regedor, ou do professor, e há os que educam para se perfilarem
nas hostes políticas e dominarem o jogo dos interesses, avessos a obediências ditadas por opositores, ainda que posicionados em cargos de supremacia de facto, seja fiscal, seja política, seja administrativa.
E há os párias, que rejeitam todas as propostas e são educados para não precisarem dessas estruturas viciadas de favorecimento e de nunca vergarem, nem fingirem respeitos que não devem a
ninguém, que são educados a esperar todo o tipo de maus tratos e de desprezo e de discriminação, que só podem contar com a sua força e não deixam que lhes indiquem o personagem
sagrado que vão vestir nas procissões dos corpos dos deuses. E isto vem de longe, de muito longe. E, para tristeza e preocupação de muita gente, está a agravar-se. O nepotismo anda à
solta, a par com a corrupção e a batota na disputa de méritos e de reconhecimentos. Então o partidarismo e o favorecimento no acesso a funções públicas, vão-se instituindo
cada vez mais como procedimentos “normais”, como se o público e o Estado fossem a oportunidade dada a alguns privados que pensam e actuam como se estivessem nas suas quintas, enquanto estiverem.
Entre
os que educam para o jogo, com os trunfos na mão e os que educam para o jogo da batota, a diferença é óbvia.
O ensino é outra coisa.
quarta-feira, 24 de agosto de 2022
A atracção do abismo
Não saber se desistes da humanidade
Mas do teatro
Não saber se desistes do teatro
Mas da humanidade
Perceber que desistes
De reconhecer o fracasso
Não acreditar
Que haja quem não sabe
Que há noites perpétuas
No pomar das musas de sombra
Onde não rescende a frutos
Não há certezas de nada
Não há como desistir
De vencer os terroristas
Mas é preciso saber
Que se precipitarão
Com todas as suas forças
Os que não resistirem à atracção
Do abismo.
sexta-feira, 19 de agosto de 2022
Verdades e interesses
Espírito crítico, não é pedir muito, é esperar demasiado. Nos tempos conturbados em que vivemos, assoberbados de solicitações
e de megafones mais ou menos selectivos e privativos, numa imersão desinibida na barafunda das tragédias e no teatro dos festejos e das celebrações, quando alguém ainda sabe dizer em que
rua mora, ou para onde quer ir, isso já é um motivo de esperança, não digo na humanidade, mas no que vier a seguir.
A verdade, além de ser algo inacessível, até aos tribunais
superiores, a maior parte das vezes, é o que menos importa ao comum dos mortais. Quando muito, pode interessar aos filósofos e aos cientistas e, mesmo nestes casos, depende de que verdade se estiver a falar.
As
declarações e os manifestos políticos, sejam democratas, autocratas, plutocratas, cleptocratas, aristocratas, etc., não são verdades.
O socialismo não é verdade. O capitalismo
também não. O comunismo idem. República ou monarquia, nada disso é verdade, por mais verdades que digam. E também não são mentira, falsidade, ou erro, por mais que mintam, falseiem
ou errem.
As religiões não são verdades, por mais verdades que digam. As realidades culturais, institucionalizadas, com mais ou menos legitimidade, aceitação, passividade, adesão,
não são expressão, nem critério de verdade.
É escandaloso que tenham a pretensão de ser aquilo que não sabem ser, nem podem ser, verdade.
Uma realidade, material,
física, ou social, não é verdade. Um presidente, um clérigo, um filósofo, um cientista, um jogador, um trabalhador, um rei, uma aranha, não são verdades. Um facto não
é uma verdade. Um acto não é verdade.
O conceito de verdade, de certo ou errado, segundo critérios de verdadeiro/falso distingue-se do conceito de verdade, segundo critérios de eticidade,
de direito, de correcto/incorrecto, ou do conceito de verdade, segundo critérios de moralidade, de bem/mal.
Em todos os casos, verdade tem a ver com condutas, comportamentos, humanos, cujo escrutínio e julgamento,
por sua vez, padecem das mesmas limitações e deficiências daqueles.
Mas não há motivos para desanimar, porque os humanos têm um sentido muito desenvolvido para escolherem o que
lhes interessa.
A mentira, a falsidade, normalmente, aproveitam-se disso, como formas deliberadas, sofisticadas, de manipulação.
Quando é por erro/ignorância, já a manipulação,
até a das grandes estruturas ideológicas a que não escapamos, é desculpabilizável.
sexta-feira, 12 de agosto de 2022
Felizmente há o direito e a justiça
Que haja liberdade
Não à impostura e à censura
Não há liberdade enquanto houver
Ditadores
Enquanto houver ameaças credíveis
Dos destruidores
Enquanto houver terror
E morte
Incendiários
Bombistas
Terroristas
Que impõem aos outros a violência
Catastrófica e demolidora
Aquilo de que a humanidade menos precisa
Nestes momentos difíceis para todos
É que os oportunistas terroristas
No momento de ajudarem a salvar
De pandemias e de secas e de guerras
Tudo façam para ajudar a aniquilar
Felizmente há o direito e a justiça
Que não podem deixar de triunfar
Quanto à vida na Terra
Veremos.