O Velha apresentava-se sempre como Alberto Caeiro e dizia ser pastor de transístores. Para muitas pessoas isso correspondia ao anúncio de uma seita esotérica, religiosa ou política. Mas não era. O Velha não era pastor de uma seita, era mesmo pastor de rebanhos de ovelhas e de cabras. Com o tempo foi-se tornando também pastor de transístores e, pouco a pouco, declarava-se a si próprio como pastor de transístores que deixara de ser pastor de gado. Na infância foi pastor de gado. Nunca pertenceu a uma tribo. Aprendeu a viver sozinho e a lidar sozinho com os seus medos. Mais tarde frequentou a escola para adultos e descobriu que era Alberto Caeiro e que tinha mais que um heterónimo, sendo um deles Fernando Pessoa. Mas a maior descoberta da sua vida foi o transístor. Desde o dia em que o descobriu que passou a fazer-se acompanhar dele para os montes com os rebanhos. Assim que pôde comprou mais alguns e levava-os todos para os sintonizar em estações diferentes. Enquanto as ovelhas pasciam, colocava os transístores em posições estratégicas no solo e ouvia de tudo em simultâneo. Se mais estações de rádio houvesse mais transístores teria comprado.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
O Velha - I
O Velha apresentava-se sempre como Alberto Caeiro e dizia ser pastor de transístores. Para muitas pessoas isso correspondia ao anúncio de uma seita esotérica, religiosa ou política. Mas não era. O Velha não era pastor de uma seita, era mesmo pastor de rebanhos de ovelhas e de cabras. Com o tempo foi-se tornando também pastor de transístores e, pouco a pouco, declarava-se a si próprio como pastor de transístores que deixara de ser pastor de gado. Na infância foi pastor de gado. Nunca pertenceu a uma tribo. Aprendeu a viver sozinho e a lidar sozinho com os seus medos. Mais tarde frequentou a escola para adultos e descobriu que era Alberto Caeiro e que tinha mais que um heterónimo, sendo um deles Fernando Pessoa. Mas a maior descoberta da sua vida foi o transístor. Desde o dia em que o descobriu que passou a fazer-se acompanhar dele para os montes com os rebanhos. Assim que pôde comprou mais alguns e levava-os todos para os sintonizar em estações diferentes. Enquanto as ovelhas pasciam, colocava os transístores em posições estratégicas no solo e ouvia de tudo em simultâneo. Se mais estações de rádio houvesse mais transístores teria comprado.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Cantarei os pacíficos
Não me dêem o que não faz falta
A tragédia menos trágica que a tragédia
De ser testemunha do mal
Se não fosse mais trágico pensar que sentir
De um mundo belo por natureza
O odioso da desumanidade
Enquanto puder
Que a vida é breve
Mas o tempo não
Amarei os pacíficos.
A tragédia menos trágica que a tragédia
De ser testemunha do mal
Se não fosse mais trágico pensar que sentir
De um mundo belo por natureza
O odioso da desumanidade
Enquanto puder
Que a vida é breve
Mas o tempo não
Amarei os pacíficos.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
O pregador e o propagandista
Está sol num grande largo povoado de sombras um pregador sob uma árvore adverte em nome do bem como um sol que faz desaparecer sombras no canto de lá um propagandista reclama liberdade como um sol que faz sombras.
quarta-feira, 31 de março de 2010
Aceito o teu convite
Aceito o teu convite para ir a tua casa
Tomar café
Mas como estarás vestida?
E não aparecerá ninguém
(a cantar numa voz de ópera?)
Já te vi subir o pano
Como o suave sol de Maio
Sobe a colina
Faz-me ver grandes nuvens brancas
E temer adormecer
Sem o desejar.
Tomar café
Mas como estarás vestida?
E não aparecerá ninguém
(a cantar numa voz de ópera?)
Já te vi subir o pano
Como o suave sol de Maio
Sobe a colina
Faz-me ver grandes nuvens brancas
E temer adormecer
Sem o desejar.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Ao amor desconhecido
Se tivesses uma morada ou telefone
Que eu soubesse
Um telemóvel ou e-mail que
Provavelmente tens
É improvável que escrevesse esta carta sem endereço
Nem sequer a escreveria
Faço-o porque não te conheço
E sou fiel
Ao sonho e mais profundo desejo
Sem trair o anjo do meu cortejo
E sem temer
Vir-me a arrepender
Pelo menos enquanto não te encontrar
Se tivesse dúvidas sobre o ridículo das cartas de amor
Elas cessariam com esta
Não por ser simples carta de amor
Mas por ser ao amor desconhecido
Que confiança pode merecer-te alguém que viveu
Oitenta anos sem te ter tido
Ou que o afirma
Mais indigno de ti
Quem diz que amou sem te conhecer
Ou quem não amou à espera que isso acontecesse
Mas tu não vieste?
Que eu soubesse
Um telemóvel ou e-mail que
Provavelmente tens
É improvável que escrevesse esta carta sem endereço
Nem sequer a escreveria
Faço-o porque não te conheço
E sou fiel
Ao sonho e mais profundo desejo
Sem trair o anjo do meu cortejo
E sem temer
Vir-me a arrepender
Pelo menos enquanto não te encontrar
Se tivesse dúvidas sobre o ridículo das cartas de amor
Elas cessariam com esta
Não por ser simples carta de amor
Mas por ser ao amor desconhecido
Que confiança pode merecer-te alguém que viveu
Oitenta anos sem te ter tido
Ou que o afirma
Mais indigno de ti
Quem diz que amou sem te conhecer
Ou quem não amou à espera que isso acontecesse
Mas tu não vieste?
domingo, 21 de março de 2010
Lady
Distingue-se o doce do amargo
Sem subtil virtude
Sem febril verdade
Nestes rios e nestes mares
Sem calma
A pomba do dilúvio
É o falcão
Da liberdade
Sem esconder os apetites
A paixão
Sai ao caminho
A solidão
À companhia dos pensamentos
Prefere a das folhas ao vento
A do dia aos olhos
A dos ouvidos à noite
Ao sabido
O que não sabe.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Não direi nada que não saibas
Se eu soubesse não diria
Nada que não seja
Poesia
Nada que não saibas
Que eu não sabia
Não direi nada
Sei
Extenso dia
Até onde alcança
A vista
A fantasia
A alma
Que vê ausências
Onde há
As dela
As outras não
Direi por dizer
Pelo prazer
De ouvir-me
E de crer
Que a palavra não faz
Falta
Em vão.
Nada que não seja
Poesia
Nada que não saibas
Que eu não sabia
Não direi nada
Sei
Extenso dia
Até onde alcança
A vista
A fantasia
A alma
Que vê ausências
Onde há
As dela
As outras não
Direi por dizer
Pelo prazer
De ouvir-me
E de crer
Que a palavra não faz
Falta
Em vão.
quarta-feira, 10 de março de 2010
ESCRITOS Online

Coletânea de comentários críticos
Por sugestão de alguns amigos, organizei e publiquei em livro centenas de comentários que postei em vários sítios na Net (http://www.escritartes.com/forum/index.php/board,2.0.html , http://www.luso-poemas.net/modules/news/, http://www.blogger.com), ao longo de quase três anos, de 2007 a 2010, sobre dezenas de autores lusófonos, dispostos por ordem alfabética, de A a Z.
Sem falsas modéstias, parece-me um trabalho pioneiro a ser seguido por quem não desfaz e não se desfaz dos escritos na Net, dedicando imensas e boas horas à comunicação e à aprendizagem online.
Subscrever:
Mensagens (Atom)