quinta-feira, 9 de agosto de 2018
domingo, 5 de agosto de 2018
Violência dos ofensores e violência dos ofendidos
Vou ser breve e cingir-me a poucas considerações sobre um tema tão vasto e
complexo.
Ao focar apenas ofensas derivadas da liberdade de expressão/pensamento, omite-se e não se aproveita para a análise, a ofensa, como denominador comum relativamente a todos os tipos de crime, públicos ou particulares.
Ao focar apenas ofensas derivadas da liberdade de expressão/pensamento, omite-se e não se aproveita para a análise, a ofensa, como denominador comum relativamente a todos os tipos de crime, públicos ou particulares.
A ofensa, na óptica do ofensor/agressor e a ofensa, na óptica do ofendido, merecem uma
análise "per si".
Se não houver ofendido, não há ofensa? Ou, por
outra, se houver ofendido, há ofensa? Todo e qualquer comportamento de um
indivíduo "contra" uma pedra, não é censurável de todo? Qual é o
escopo da censura, o objetivo, a teleologia? O comportamento do indivíduo, a
adequação da sua conduta social ou os eventuais resultados, efeitos ou consequências
dessa conduta?
Mesmo que alguém admitisse, sem se queixar e sem se sentir ofendido, que o
maltratassem, injuriassem, difamassem, escravizassem, o busílis da questão
jurídica e ético-moral, não estaria apenas na disponibilidade dessa pessoa, como
parece óbvio.
A questão das bandeiras é ilustrativa de que o problema talvez não existisse se
as "ofensas" à minha bandeira fossem feitas por gente que,
igualmente, "ofendia" as suas bandeiras e aceitava/concordava que outros o fizessem.
Vou constatando é que os que mais ofendem as bandeiras dos outros também
são os que mais se ofendem com ataques às suas.
Em qualquer caso, o problema das ofensas é muito mais do que um problema de
sentir-se ou ser ofendido.
É sobretudo um problema de limites à liberdade.
Passa-se o mesmo com os atentados ao pudor.
Alguém que se julgue com o direito de c.... na rua, à vista, ou ir nu a empurrar um carrinho, ou f.... à canzana numa esplanada, até pode ter quem goste e quem aplauda, longe de se sentir ofendido.
Alguém que se julgue com o direito de c.... na rua, à vista, ou ir nu a empurrar um carrinho, ou f.... à canzana numa esplanada, até pode ter quem goste e quem aplauda, longe de se sentir ofendido.
Até se poderia pensar em propor às pessoas que escolhessem entre vários
espaços possíveis, como se faz para fumadores e não fumadores, etc..
Agora, o direito de a pessoa se sentir ofendida não existe.
O que há é o
direito de não ser ofendido.
Não me ofende quem pensa mal de mim.
Ofende-me quem o expressa, não no mero
exercício de uma liberdade de expressão, por mero gozo ou felicidade pessoal,
mas à minha custa, à custa da minha reputação, imagem, bom nome, felicidade,
paz, com o intuito de me prejudicar, ainda que só me prejudique no foro íntimo.
Não faz grande sentido que sejamos contemporizadores com a violência dos
ofensores como se esta tivesse o mesmo significado e valor/justificação da
violência dos ofendidos.
sexta-feira, 27 de julho de 2018
Pensar o sentir/ sentir o pensar
Ai de nós se a intensidade com que pensamos fosse proporcional à intensidade com que sentimos e vice-versa!
A nossa dor ou alegria dura algum tempo, às vezes menos do que desejaríamos, e depois funciona como memória ou lembrança em que pensamos.
Se assim não fosse, éramos capazes de festejar um golo da nossa equipa no início do jogo e, sem parar de festejar, ainda o estarmos a fazer quando o jogo terminasse com a nossa equipa a perder.
Ou, constantemente, chorarmos porque a todo o momento alguém sofre injustamente.
A nossa dor ou alegria dura algum tempo, às vezes menos do que desejaríamos, e depois funciona como memória ou lembrança em que pensamos.
Se assim não fosse, éramos capazes de festejar um golo da nossa equipa no início do jogo e, sem parar de festejar, ainda o estarmos a fazer quando o jogo terminasse com a nossa equipa a perder.
Ou, constantemente, chorarmos porque a todo o momento alguém sofre injustamente.
sexta-feira, 8 de junho de 2018
Como esta chuva que cai
E nesse tempo distante
A que houvesse de voltar
Ninguém me peça que cante
Nem me lembre de cantar
Não me peçam que não chore
Só me apetece chorar
Nem esperem que tudo ignore
Porque me quero lembrar
Passei metade da vida
A fugir da confusão
Mas não encontro saída
Da solidão
Eu não confio em deuses
Quem confia no diabo?
Sigo só como os ateus
Mas não sei como é que acabo
Olho para os meus desertos
Como um lagarto olha o mundo
Estar com os olhos abertos
É o que há de mais profundo
Como esta chuva que cai
Como este corvo crocita
Como esta gente que trai
Princípios em que acredita.
A que houvesse de voltar
Ninguém me peça que cante
Nem me lembre de cantar
Não me peçam que não chore
Só me apetece chorar
Nem esperem que tudo ignore
Porque me quero lembrar
Passei metade da vida
A fugir da confusão
Mas não encontro saída
Da solidão
Eu não confio em deuses
Quem confia no diabo?
Sigo só como os ateus
Mas não sei como é que acabo
Olho para os meus desertos
Como um lagarto olha o mundo
Estar com os olhos abertos
É o que há de mais profundo
Como esta chuva que cai
Como este corvo crocita
Como esta gente que trai
Princípios em que acredita.
Tutela perniciosa
Das inúmeras variáveis que é necessário sopesar e
ponderar para um conhecimento do sistema de ensino/educação, que existe,
mormente com alunos e professores no centro das pressões, a aguentar forças
centrípetas e centrífugas, assim muito esquematicamente, refiro os decisores
políticos, que se assumem, inquestionavelmente, como os senhores (donos) disto tudo.
E nada há de mais errado no sistema de ensino/educação.
E nada há de mais errado no sistema de ensino/educação.
Este tem condições para estar, e deveria estar,
emancipado, há muito, dessa tutela tão perniciosa quão perversa.
Carlos Ricardo Soares
domingo, 27 de maio de 2018
Brilhantina
Um dos pedintes mais bem sucedidos do burgo
costumava vestir-se como um valete, de que se arrogava o título. Abrilhantinava
a cabeleira e, com pose de alteza, porém lamuriando-se da sorte, pedia na rua, não
como um pobre, que não assumia ser, mas como um rico, que detestava de tal modo
o dinheiro gastando-o a rodos, que acabou por cair em desgraça. Nas lojas, onde
era acolhido, até com honras e mesuras, ouviam a sua triste história, quando o
trato que davam aos maltrapilhos era corrê-los porta fora. E todos, até os
pobres, se condoíam desse personagem, até saberem que era, simplesmente, um
pobre mas hábil ator, e logo se arrependiam de ter ajudado um farsante.
quinta-feira, 24 de maio de 2018
Presunções
A presunção de inocência ou a presunção de culpa, juridicamente e, na prática, serão irrelevantes, porque não alteram o estatuto do arguido, nem alteram a realidade dos factos, nem interferem no julgamento. Aliás, como é sabido, "presunção e água benta, cada um toma a que quer". O que justificaria, talvez, não estar a ocupar espaço na letra da lei, que já é tão extensa.
O problema com interesse, com grande afinidade deste, é o do ónus da prova. Neste ponto, em vez de presumir inocência ou culpa, importa provar. Aliás, uma condenação judicial é uma presunção de culpa ou de imputabilidade, etc.. e uma absolvição nem sequer é uma presunção de inocência, e não é um juízo de inocência.
Com o tempo, perante novos elementos de prova, essas presunções podem ser revertidas. Ainda assim, relativamente ao ónus de prova, na minha opinião, no caso de certas entidades políticas e financeiras, pelos cargos que ocupam, pelo que representam, pela posição privilegiada em que sempre estão para apresentarem e fazerem prova, haveria toda a vantagem para a justiça que o ónus da prova recaísse sobre eles e não ao contrário, como sucede.
Indiciados que fossem da prática de certo tipo de crimes, caber-lhes-ia o ónus de provar o contrário. Atualmente, não têm qualquer ónus. Não precisam de provar nada para serem absolvidos, basta que se frustrem as acusações.
O problema com interesse, com grande afinidade deste, é o do ónus da prova. Neste ponto, em vez de presumir inocência ou culpa, importa provar. Aliás, uma condenação judicial é uma presunção de culpa ou de imputabilidade, etc.. e uma absolvição nem sequer é uma presunção de inocência, e não é um juízo de inocência.
Com o tempo, perante novos elementos de prova, essas presunções podem ser revertidas. Ainda assim, relativamente ao ónus de prova, na minha opinião, no caso de certas entidades políticas e financeiras, pelos cargos que ocupam, pelo que representam, pela posição privilegiada em que sempre estão para apresentarem e fazerem prova, haveria toda a vantagem para a justiça que o ónus da prova recaísse sobre eles e não ao contrário, como sucede.
Indiciados que fossem da prática de certo tipo de crimes, caber-lhes-ia o ónus de provar o contrário. Atualmente, não têm qualquer ónus. Não precisam de provar nada para serem absolvidos, basta que se frustrem as acusações.
quarta-feira, 23 de maio de 2018
A privacidade
Há que teimar em trazer à liça um problema de
suma importância para cada um de nós, tanto mais importante quanto mais inócuo
se faz sentir, a violação da privacidade.
Não é por acaso que a privacidade é tão mal entendida e tão
mal tratada.
Estou a pensar na segurança e nos interesses policiais.
Limitar-me-ei a considerar que a minha privacidade é um reduto interdito,
sobretudo, às polícias. Diria até que é o oposto de policiamento, sabendo nós que as
"polícias" não são apenas os agentes de segurança e da ordem pública
investidos da autoridade do Estado.
A privacidade é incompatível com os "guardiões", legisladores do medo, corruptos que o são porque podem, sem medo e sem vergonha, guardiões dos privilégios.
E não estou a pensar na criminalidade, que deve ser prevenida e combatida, sobretudo a alta criminalidade do venal.
Estou a pensar na saúde mental, na liberdade de pensamento, de criatividade e de significado, do significado atingido livremente, não do significado infiltrado, hospedado à força no cardápio das nossas alternativas avassaladas.
Esta sensação de falta de mundo e de espaço para respirar outro ar que não seja o da vigilância, sobretudo quando perpetrada pelos alvos inelutáveis do nosso ódio, acaba por viciar também os comportamentos, sobretudo os de maior visibilidade, que se tornam à medida, ou seja, o próprio processo de invasão e controlo da privacidade subverte-se ao ponto de o privado ser também uma máscara. E cada vez se torna mais pública e convencional a ideia de que o que é visível pode ser a melhor forma de invisibilidade.
A privacidade é incompatível com os "guardiões", legisladores do medo, corruptos que o são porque podem, sem medo e sem vergonha, guardiões dos privilégios.
E não estou a pensar na criminalidade, que deve ser prevenida e combatida, sobretudo a alta criminalidade do venal.
Estou a pensar na saúde mental, na liberdade de pensamento, de criatividade e de significado, do significado atingido livremente, não do significado infiltrado, hospedado à força no cardápio das nossas alternativas avassaladas.
Esta sensação de falta de mundo e de espaço para respirar outro ar que não seja o da vigilância, sobretudo quando perpetrada pelos alvos inelutáveis do nosso ódio, acaba por viciar também os comportamentos, sobretudo os de maior visibilidade, que se tornam à medida, ou seja, o próprio processo de invasão e controlo da privacidade subverte-se ao ponto de o privado ser também uma máscara. E cada vez se torna mais pública e convencional a ideia de que o que é visível pode ser a melhor forma de invisibilidade.
Cada vez mais, as iludências aparudem!!!
Até porque quem quer ser olhado do modo que os outros escolhem? Ou gosta do modo como é olhado, ou de quem olha/observa, independentemente da finalidade?
Até porque quem quer ser olhado do modo que os outros escolhem? Ou gosta do modo como é olhado, ou de quem olha/observa, independentemente da finalidade?
Temos o direito de odiar, recusar e rejeitar o
"mau olhado".
De resto, no inferno da privacidade só entram almas danadas e não se constroem paraísos onde possa entrar quem não se quer.
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