Decidi estacionar o carro e seguir a pé. Num dia soalheiro e o palácio da justiça a cerca de quinhentos metros? Isso não era nada para um tipo como eu. Ou não tivesse jogado ténis até aos vinte e cinco anos e ganho alguns torneios. Ah!Ah!Ah! Aliás, foi no ténis que conheci a Teresa. De uma beleza espampanante e, ao mesmo tempo, de uma modéstia e de uma inteligência provavelmente inexcedíveis, segundo os meus padrões, claro. Assim a vi logo no primeiro contacto e essas impressões perduraram e foram sendo confirmadas e ultrapassadas posteriormente com o aprofundamento da nossa relação. Mesmo que tentasse, não seria capaz de disfarçar a admiração que senti por ela desde o princípio e que ela, a cada momento, mais me inspirava. E o fascínio? O respeito por uma mulher que eu, obviamente, idolatrava? Chamar cegueira a esta paixão pode ser um jogo de palavras mas não o julgo supérfluo.
Teresa estava avisada do meu atraso. Quando cheguei, ela esboçou um compreensivo sorriso e disse-me que a funcionária do tribunal já tinha chamado por nós, mas que lhe explicara a razão do atraso e que este seria breve. A funcionária aguardou que eu chegasse.
A nossa comparência no tribunal estava relacionada com um processo-crime em que Teresa era vítima de violência doméstica. E fico por aqui por causa do segredo de justiça.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Orquídea
Será como tu quiseres
E quanto imaginares
E me atreveres
Com os teus olhares
No altar do teu colo
Adoro e genuflecto
Para consolo
Te beijo o aspecto
Deixa-te levar
Na toada suave
Deixa-te tocar
Antes que o sonho acabe
Deixa-me levar-te
Fonte brota quente
Deixa-me exilar-te
Orquídea fremente
Será como disseres
Será como calares
Aceito o que me deres
Te dou o que aceitares
Sobre os teus lumes
Perco-me a morder
Curvas de volumes
Gritos de prazer
Anseio que mo dês
Como imagino dares
Na seminudez
A que chegares
E te vieres
E mo tirares
Sem te perderes
Nem transviares
Dos limites da loucura
Aos limites do prazer
Sem limites da ternura
Quando em ti amanhecer.
E quanto imaginares
E me atreveres
Com os teus olhares
No altar do teu colo
Adoro e genuflecto
Para consolo
Te beijo o aspecto
Deixa-te levar
Na toada suave
Deixa-te tocar
Antes que o sonho acabe
Deixa-me levar-te
Fonte brota quente
Deixa-me exilar-te
Orquídea fremente
Será como disseres
Será como calares
Aceito o que me deres
Te dou o que aceitares
Sobre os teus lumes
Perco-me a morder
Curvas de volumes
Gritos de prazer
Anseio que mo dês
Como imagino dares
Na seminudez
A que chegares
E te vieres
E mo tirares
Sem te perderes
Nem transviares
Dos limites da loucura
Aos limites do prazer
Sem limites da ternura
Quando em ti amanhecer.
sábado, 10 de outubro de 2009
O LIVRO DE TODO O CONHECIMENTO (I)
O dia de hoje foi normal até há pouco, quando decidi sentar-me para escrever sobre o dia de hoje. Ainda sem saber porquê, comecei logo a ter a percepção de que o dia de hoje foi, afinal, um dia extraordinário. Levantei-me de madrugada com a história do livro de todo o conhecimento na cabeça mas só escrevi o título porque as ideias não desenvolviam. Voltei para a cama e não dormi a pensar que tinha de levantar-me antes das oito, para a abertura da bolsa. Às oito já estava em frente do computador, como venho fazendo há anos. Nesta altura, a história do livro de todo o conhecimento parecia-me ainda mais difícil de escrever, como se tivesse sido um sonho. Sabem como é difícil, para não dizer impossível, passar os sonhos para o papel?! Quanto à bolsa, mais um dia à espera da abertura de Wall Street! Adiante. Banho. Aula de Economia sobre sociedade de consumo, laxismo, hedonismo e os males que podem advir para o mundo. “Quando as batalhas terminam aparecem os valentes”…
Apetecia-me tanto comer tripas à moda do Porto regadas com uma garrafa de tinto de 37,5cl…
Mas estava à minha espera o rei, desculpem, não era o rei, era a princesa, bem, vocês não conhecem, linda de entontecer, envergando diáfanos atributos, que me concederia o privilégio de a fazer feliz entre o período do almoço e o do lanche.
Cheguei atrasado. Não previra que uma fila de carros embandeirados retardasse o trânsito com euforias altifalantes porque é tempo de campanha eleitoral e “Viva a República”.
Logo constatei que um indivíduo, vestido de branco, de pé, num estrado colocado na rotunda, de megafone numa mão e uma bandeira branca na outra, tinha feito parar duas caravanas de manifestantes, uma do PS, que seguia em direcção indefinida e, outra do PSD, que andava às voltas. O indivíduo do megafone e da bandeira branca clamava distintamente, ora para a caravana dos do PS ora para a caravana dos do PSD, num tom messiânico:
«Eu não podia sentir-me mais à margem deste espectáculo. Será por isso que o considero triste? Eu não faço parte desta sociedade? Não me identifico com ela? Não me comprometo com ela? Não gosto dela? Se pudesse estava noutro sítio, com outras pessoas? Por favor, responda quem souber. Não pensem que não sou político dos sete costados ou que não tenho partido. O meu partido é não ter nenhum dos partidos existentes. Passividade não é comigo. E, quanto a ir votar, preciso de mais alternativas para me sentir livre. Ouviram? Livre. De Liberdade. O voto em branco é pouco. A abstenção, os mentores do sistema político converteram-na em nada, assim como os votos nulos.
Sou político, tenho política e a minha política é esta: deixem de manipular as pessoas pelos medos, tentem manipulá-las pelas genuínas alegrias e direitos. Não lhes acenem com direitos com o objectivo, dissimulado, de lhes cobrar obrigações e deveres. A democracia só não perdeu completamente o significado de poder exercido pelo povo, não porque os políticos, a classe política, o represente legitimamente, mas porque, apesar desta incongruência grave, o povo vai exercendo o seu poder por outras formas, pagando os custos elevados de todas, porque, na realidade o dito povo paga aos políticos para exercer o poder que não exerce e paga o contra poder para fazer face aos mesmos políticos que contra si o exercem.»
Julgo ter percebido bem estas últimas palavras, mas não garanto, porque as caravanas dos manifestantes faziam cada vez mais barulho, com claxons, apitos e altifalantes, com o objectivo aparente de abafarem o som do megafone.
Apetecia-me tanto comer tripas à moda do Porto regadas com uma garrafa de tinto de 37,5cl…
Mas estava à minha espera o rei, desculpem, não era o rei, era a princesa, bem, vocês não conhecem, linda de entontecer, envergando diáfanos atributos, que me concederia o privilégio de a fazer feliz entre o período do almoço e o do lanche.
Cheguei atrasado. Não previra que uma fila de carros embandeirados retardasse o trânsito com euforias altifalantes porque é tempo de campanha eleitoral e “Viva a República”.
Logo constatei que um indivíduo, vestido de branco, de pé, num estrado colocado na rotunda, de megafone numa mão e uma bandeira branca na outra, tinha feito parar duas caravanas de manifestantes, uma do PS, que seguia em direcção indefinida e, outra do PSD, que andava às voltas. O indivíduo do megafone e da bandeira branca clamava distintamente, ora para a caravana dos do PS ora para a caravana dos do PSD, num tom messiânico:
«Eu não podia sentir-me mais à margem deste espectáculo. Será por isso que o considero triste? Eu não faço parte desta sociedade? Não me identifico com ela? Não me comprometo com ela? Não gosto dela? Se pudesse estava noutro sítio, com outras pessoas? Por favor, responda quem souber. Não pensem que não sou político dos sete costados ou que não tenho partido. O meu partido é não ter nenhum dos partidos existentes. Passividade não é comigo. E, quanto a ir votar, preciso de mais alternativas para me sentir livre. Ouviram? Livre. De Liberdade. O voto em branco é pouco. A abstenção, os mentores do sistema político converteram-na em nada, assim como os votos nulos.
Sou político, tenho política e a minha política é esta: deixem de manipular as pessoas pelos medos, tentem manipulá-las pelas genuínas alegrias e direitos. Não lhes acenem com direitos com o objectivo, dissimulado, de lhes cobrar obrigações e deveres. A democracia só não perdeu completamente o significado de poder exercido pelo povo, não porque os políticos, a classe política, o represente legitimamente, mas porque, apesar desta incongruência grave, o povo vai exercendo o seu poder por outras formas, pagando os custos elevados de todas, porque, na realidade o dito povo paga aos políticos para exercer o poder que não exerce e paga o contra poder para fazer face aos mesmos políticos que contra si o exercem.»
Julgo ter percebido bem estas últimas palavras, mas não garanto, porque as caravanas dos manifestantes faziam cada vez mais barulho, com claxons, apitos e altifalantes, com o objectivo aparente de abafarem o som do megafone.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Só tu és bela
Eu nunca fui senhor de nada
Olhei sempre as coisas
Como a alegria ou a tristeza
Dobra a alma de um escravo
Às vezes andei por onde gostaria
E aprendi que há quem aprenda a gostar
Eu não
Não saberia falar de coisa nenhuma
Porque o canto das aves
É a minha obsessão pelas virtudes
Saber que não morrerei delas
Mas da arte
Que falta sempre na vida
Como nas obras
-----------------
De arte
Só tu és bela para sempre
Despindo-te da vaidade
Aos abismos do meu desejo
Como um espelho irresistível
Te rouba o corpo.
domingo, 4 de outubro de 2009
Se houver adeus
Se houver adeus
Afastar-me-ei do que sou
E deixar-me-ei mergulhado
No silêncio predestinado
Não como nu vou e volto
Do mar
Mas morto
Que tem na memória
Uma vida
Cheia de vozes
Se não
Afastar-me-ei a pensar na ignorância
Nos horizontes sufocantes
Das catedrais que vão ruindo
Com uma lágrima insensível
Com a semente de um rio
Deixarei o que amava
Sem direcção
Até a brisa mais suave
Se não me ignorar
Me sentenciará de penas eternas
Se não
A minha existência
Não passou de uma ilusão.
Afastar-me-ei do que sou
E deixar-me-ei mergulhado
No silêncio predestinado
Não como nu vou e volto
Do mar
Mas morto
Que tem na memória
Uma vida
Cheia de vozes
Se não
Afastar-me-ei a pensar na ignorância
Nos horizontes sufocantes
Das catedrais que vão ruindo
Com uma lágrima insensível
Com a semente de um rio
Deixarei o que amava
Sem direcção
Até a brisa mais suave
Se não me ignorar
Me sentenciará de penas eternas
Se não
A minha existência
Não passou de uma ilusão.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Da tua pele que se aflige
Com lábios devassos e impuros
Afloro as camuflagens sensíveis
Da tua pele que se aflige
Abro com os dedos
As folhas do teu livro casto
Como uma tempestade impiedosa
Para o fruto bamboleante.
Afloro as camuflagens sensíveis
Da tua pele que se aflige
Abro com os dedos
As folhas do teu livro casto
Como uma tempestade impiedosa
Para o fruto bamboleante.
domingo, 27 de setembro de 2009
De como se mata e como se morre
Um lago um mar um oceano
A verdade
Não sei
Um céu talvez
Uma fundura por explorar
No mastro alto do dia
Um corvo pousado
Uma bandeira negra
Que à noite se oculta
Na casca de noz sem horizonte
Os meus olhos triunfam com a visão
Das grandiosas cidades
Mas a memória das florestas devastadas
É a história de como matam os homens
E como morrem
E uma lição de como se mata
Que não nos ensina a morrer
O nosso país tão grande
Que não cabe em Portugal
Os nossos automóveis
As nossas casas e
Os nossos computadores
Todas as lojas com tudo
E as músicas omnipresentes
Não são suficientes
Para nos salvar
O linguajar excelente
Que sai dos abismos do coração
É como aquela bandeira ao vento
Plantada na areia
Pelo porta estandarte
Que tombou
Se a alma tem fome
Nunca se sacia dos dias
Que voltam sempre
Sobre as carnificinas
No seu altivo triunfo
Terra e mar são poderosos aliados
Dos homens na escuridão
Que escutam no vento
Gemidos dos vingados
Se tropeçares n’alguma certeza
Por andares perdido na cidade
Pensa como é inquietante
Ver um exército que dorme.
A verdade
Não sei
Um céu talvez
Uma fundura por explorar
No mastro alto do dia
Um corvo pousado
Uma bandeira negra
Que à noite se oculta
Na casca de noz sem horizonte
Os meus olhos triunfam com a visão
Das grandiosas cidades
Mas a memória das florestas devastadas
É a história de como matam os homens
E como morrem
E uma lição de como se mata
Que não nos ensina a morrer
O nosso país tão grande
Que não cabe em Portugal
Os nossos automóveis
As nossas casas e
Os nossos computadores
Todas as lojas com tudo
E as músicas omnipresentes
Não são suficientes
Para nos salvar
O linguajar excelente
Que sai dos abismos do coração
É como aquela bandeira ao vento
Plantada na areia
Pelo porta estandarte
Que tombou
Se a alma tem fome
Nunca se sacia dos dias
Que voltam sempre
Sobre as carnificinas
No seu altivo triunfo
Terra e mar são poderosos aliados
Dos homens na escuridão
Que escutam no vento
Gemidos dos vingados
Se tropeçares n’alguma certeza
Por andares perdido na cidade
Pensa como é inquietante
Ver um exército que dorme.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Enquanto a morte não chega
O vento lá fora
Numa dança de folhas sem fim
Embalo do tempo
Demora
Futuro presente em mim
Crianças jogam à bola
Na relva seca pelo verão
Que deixa em volta da escola
A forma de um coração
Paisagem para uma alma
Que o corpo não libertou
A dor é vindima calma
Do sol que já declinou
Como é belo dar a face
Oh vida como nos demos.
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