Continuamos a ouvir discursos numa "argumentação clássica" acerca das desigualdades e da concentração de riqueza, quiçá a favor de
uma redistribuição como solução (curiosamente, como solução para manter em movimento acelerado a roda do capitalismo na mira do mítico e sacralizado crescimento económico)
dos problemas que ameaçam os capitalistas (e o capitalismo), constatando que as revoluções só acontecem quando a crise chega aos ricos, que já deixaram de o ser ou estão em vias disso.
Mas
este tipo de argumentação não traz nada de novo e segue a lógica imperiosa do modelo económico paradigmático.
A estranheza deste tipo de discurso, para não dizer
originalidade, é a recorrência dos plutocratas à desculpabilização de si mesmos e à culpabilização do Estado e dos governantes.
É incrível que
“tenham” de ser eles próprios a vir dizer, com ênfase, que querem pagar mais impostos, que ganham demasiado dinheiro, mas que o Estado e os governantes nada fazem quanto a isso, ou porque não
querem, ou porque andam “distraídos”.
Duvido que alguma vez na história tivesse ocorrido algo semelhante, que se vai repetindo um pouco por aqui e por ali.
O Estado, os partidos, os governos,
parecem reféns da lógica da sua própria dogmática ideológica.
No futebol também há situações em que o jogador diz que não tem culpa de ganhar tanto, que
nem pediu dinheiro, este é que lhe é oferecido.
De qualquer modo, estamos a assistir a uma realidade que está a passar ao lado dos discursos e das reivindicações dos nossos tempos.
Talvez
possa soar a heresia dentro do paradigma clássico, mas é um facto que, sem ninguém o ter pretendido, ou por ironia do destino, a concentração de riqueza, com as inerentes desigualdades, sendo
um escândalo social e moral, um pouco à semelhança do que acontece com as medidas de austeridade, mas muito mais grave, não deixa de ser uma “bênção” para o planeta,
para a necessidade de o salvar.
Vejamos.
Se redistribuíssem amanhã a riqueza pelos que a não têm, o que é que aconteceria?
Não digam que todos ficariam melhor e que haveria mais
ricos, porque os efeitos seriam devastadores... para o planeta.
Os níveis de consumo, se não forem controlados, talvez sejam a maior ameaça para a humanidade.
Se ao menos fosse possível
alcançar menos consumismo de bens materiais, desperdício, destruição, poluição, extinção de recursos, em troca de mais consumo de serviços...
Mas este nó
parece ser um nó górdio.