De resto, enquanto os religiosos
e os crentes têm narrativas e tábuas de valores, preceitos e doutrinas que enformam as sociedades e as instituições sociais, desde sempre, com um acervo de cultura reconhecidamente edificante da
pessoa e do mundo, os ateus só têm para oferecer "a contestação", baseada na falta de fundamentos fácticos das crenças.
Ora, é sabido que os crentes não têm
nem defendem uma ciência de Deus.
E se as religiões começaram por ser pseudociências de Deus, atualmente nem precisam de Deus para serem religiões, bastando-lhes serem ideologias cujo sistema
de valores e doutrinas rivalizam diretamente com qualquer estrutura político-partidária.
Hoje, as religiões já não são o que eram. A própria pressão científica
obrigou à distinção entre crença em Deus e conhecimento de Deus.
Crença todos podem ter, mas conhecimento nem por isso.
O problema é quando o crente toma a sua crença como padrão
de racionalidade para tudo o mais. Identicamente, o problema do ateu é adotar uma posição irredutível, sem saída para lado nenhum, puramente negacionista, quando a racionalidade aspira a
muito mais e exige, largamente, muito mais.
Não me considero ateu nessa acepção.
Não me considero ateu nessa acepção.
Acredito num Deus desconhecido, por mais contraditório e paradoxal que isto possa ser.
Deus é um mistério
paradoxal.
Os ateus não têm como evitá-lo e são eles próprios "um efeito, ou corolário" desse mistério.
Os ateus não têm como evitá-lo e são eles próprios "um efeito, ou corolário" desse mistério.
Mas acreditam em coisas estranhas e inexplicáveis como o Big bang. Aquilo que explodiu.
Que é que explodiu? Porquê? E os estados sucessivos da matéria? O que é a matéria?
Que é que explodiu? Porquê? E os estados sucessivos da matéria? O que é a matéria?
E nesta génese de Deus o homem foi significando a religião, as religiões, com os mais variados objetivos, práticos e teóricos, tornando-as em caldos de superstições e de contradições e de sistemas políticos e normativos.
Jesus Cristo parece ter tido uma visão muito clara de que as religiões, incluindo a judaica, eram uma espécie de pseudociências de Deus. Quem soubesse a cassete do "jargão" religioso, sentia-se habilitado a falar disso como um sábio.
Infelizmente, Jesus Cristo não foi devidamente compreendido. Ele era o mais revolucionário ateu numa cultura de pseudociências de Deus. Ele foi o mais lúcido, contundente e demolidor adversário e inimigo dessa cultura.
Mas os próprios cristãos, o cristianismo, os poderes políticos, a igreja católica, trataram de o interpretar e de o integrar no velho sistema de pseudociências de Deus, como se ele fosse mais um, embora diferente e melhor.
E, mais grave do que isso, endeusaram Jesus Cristo. Ao endeusá-lo estavam a endeusar a própria Igreja, o que veio a revelar-se catastrófico, e a destruir, desvirtuando-a e deturpando-a, a grande mensagem de Jesus Cristo contra as religiões enquanto pseudociências de Deus.
O que poderia ter sido um imenso movimento de iluminismo antecipado e fulgurante, verdadeiramente libertador, acabou por ser absorvido em sistemas de mais pseudociências de Deus.