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sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Eu canto para ti - 5


Canto o delírio

De crer que a eternidade

É como um cofre forte

Que guarda os tesouros

Depois da morte

                    (continua)


quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Eu canto para ti - 4


Quem dera que o meu canto

Te dissesse quanto

Gostaria

Que fosse sempre

Tarde de mais

Para partir

Como um cristal plangente

                              (continua)

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Eu canto para ti - 3


Canto para ti

Baladas ao vento que passa

À porta da tua ausência

Por um ar da tua graça

À porta da tua ausência

                    (continua)

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Eu canto para ti - 2


Como se pudesse salvar a vida

De um pássaro preso

Numa tempestade de silêncio

A caminho da noite prometida

                                       (continua)

domingo, 3 de novembro de 2024

Eu canto para ti - 1


Eu canto para ti

Como se ouvisses maio a florir

No fundo da memória esvanecida

                              (continua)

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O Homem é um animal que censura


Os actos e os efeitos de censura, ou de censurar, na acepção mais ampla da palavra, estão de tal modo intricados e são tão conaturais, ou intrínsecos, ao modo de ser “sapiens”, do “homo sapiens” ou, se quisermos, à cultura como produto, resultado, efeito, consequência, exteriorização, objetivação, objetificação, manifestação da racionalidade humana, que a hipótese de perspetivarmos e analisarmos o humano, em toda a sua dimensão cultural, social e pessoal, pelo prisma da censura, se apresenta espantosamente fecunda e promissora.
Diria que o Homem é um animal que censura.
O que eu afirmo é que vivemos, a humanidade vive, sob a égide do dever-ser, como já tenho repetido a propósito da minha teoria unificadora acerca da faculdade da racionalidade, neste caso, humana, como condição “sine qua non” das escolhas, que o ser humano tem de fazer em cada momento do seu estado de consciência, como se esta, realmente, seja o “modus operandi” do acto de escolher, que o é, mesmo quando é aleatório, ou omissivo.
Em todos os casos, ainda assim, a escolha é um acto e isto significa que mesmo quando é arbitrário, o é por escolha. Esta resulta de um processo de avaliação por antecipação do efeito da escolha.
A representação antecipada daquilo que se escolhe é inerente ao processo de escolha, tanto nos casos de escolha teórica, filosófica, científica, de verdadeiro ou falso, como nos casos de escolha prática, estética, económica, ética, moral, jurídica em que, normalmente, a bondade da escolha não depende fundamentalmente de um silogismo, como nos casos do verdadeiro falso, mas de uma ponderação “a posteriori” dos custos de oportunidade, entendidos “lato sensu”.
Não vou aqui referir implicações filosóficas, científicas, sociais, políticas desta constatação, porque se trata de uma constatação, pelo menos plausível, da realidade e não de uma ideologia, política, doutrina, proclamação, acerca da realidade, nomeadamente implicações resultantes do confronto com teorias kantianas sobre a razão e sobre imperativos morais, mas quero assinalar que o imperativo para o homem, da inelutabilidade natural da escolha, o coloca, por força da racionalidade/consciência, ou consciência/racionalidade, perante todo o tipo de problemas cuja solução é a que deve-ser, não apenas segundo a ética, ou a moral, ou a estética, ou a economia, ou a ecologia, nos casos das escolhas/crenças/investimento/apostas, mas também a que deve-ser nos casos das escolhas/confirmações/provas/revisões dos enunciados de verdadeiro/falso, dos discursos filosófico-científicos. Uns e outros, como produtos culturais que são, não podem deixar de ser como devem ser.
E isto que eu afirmo com toda a simplicidade é uma pequena diferença na análise e na descrição do acto como processo de consciência (obviamente individual), que faz toda a diferença no entendimento acerca dos comportamentos humanos, nomeadamente acerca de uma evolução cultural para melhor, de tal modo que, mesmo quando se recuperam valores perdidos, isso não é um retrocesso.

Carlos Ricardo Soares

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A presença faz toda a diferença


É de grande relevância distinguir os problemas de linguagem e da lógica dos problemas do conhecimento e da compreensão da realidade e das relações e conexões que cada indivíduo é capaz de estabelecer, com a realidade e na comunicação acerca da realidade. 
A linguagem e a lógica encerram-nos dentro do seu próprio sistema, do sistema que elas próprias são. Isto é um problema, mas quando necessitamos de recorrer a elas para objetivarmos o nosso entendimento da realidade (com todas as conexões e relações que formos capazes de ver) constatamos que existe outro problema, que é o de não ser possível objetivar o subjetivo. 
Para mostrar o que sinto, ou penso, descrevo ou pinto, ou faço um gesto, utilizo alguma linguagem e, mesmo que a use de um modo muito eficaz de comunicação esta eficácia nunca dependeria apenas de mim e, de qualquer modo, seria uma representação, não da realidade, mas do que sinto ou penso sobre ela.
É como se o real, para mim e para ti, fosse virtual, embora a presença do objeto faça a diferença.

Carlos Ricardo Soares

domingo, 27 de outubro de 2024

O virtual e o real - a multiplicação da confusão


Lá fomos tomando juízo

E aprendendo a distinguir

No meio da confusão

Que em vez de diminuir

Se multiplica

Por alguma causa

Há sempre uma causa

Ainda que desconhecida

Mas nem sempre temos razão

E é necessário ter razão

Conhecer a razão

Qualquer que seja a causa

Lembrar esquecer

Acordar adormecer

Sofrer a sonhar

Sonhar a sofrer

A amar sempre

Como sempre

Odiar

Como nunca

Tirar lições da vida

Do que podemos ou não

Fazer

Do que é ou não permitido

Quais delas as mais difíceis

Nem tudo é para dizer

Nem tudo é para calar

Nem tudo é para ver

E muito do que se vê

Não é flor que se cheire

Ou deva tocar

E muito do que se quer

Não é para possuir

Ou dispensar

Nem tudo é para ouvir

E muito do que se ouve

É melhor ignorar

Mas sempre podemos sentir

E afinal pensar

Nas lições e nas interações

Da vida

Do ter do ser e do saber

Fazer

O bem e o mal

Além do virtual.


          Carlos Ricardo Soares