domingo, 22 de agosto de 2021
Promessas
sábado, 14 de agosto de 2021
História por contar
Há uma história recente para contar, desde o 25 de abril, que é a resposta à pergunta: "como a direita e os fascistas se têm vingado levando, pelas mãos da esquerda, um país livre à ruína, sabotando toda a economia e todos os apoios e toda a redistribuição de riqueza?".
O panorama empresarial português, sobretudo algumas empresas que passaram ou ainda estão na bolsa de valores de Lisboa, e não apenas no PSI20, ou 18, ou 15, podem ser boas pistas de investigação e de reflexão. Mas trabalham numa amplitude temporal que lhes permite passarem despercebidos aos radares "fotovoltaicos" da atenção conjuntural.
A direita percebeu muito bem que quem domina em ditadura domina em
democracia, a questão do domínio não é meramente política. Basta afivelar a
máscara no palco da tragédia.
domingo, 1 de agosto de 2021
Ser Poeta
Num mundo em que a indústria do som, das arengas, das propagandas e dos engodos é capaz de manter perpetuamente infatigável a máquina, a troco da nossa fadiga e alheamento, ser poeta é ser um pobre diabo sem procuração para representar nada nem ninguém.
Neste mundo estranho, fascinante para quem consegue, num concurso para escolher o seu sósia, o poeta não seria classificado nos três primeiros lugares.
De todos os que falam, ou lhe falam, em nome de qualquer coisa, ou entidade (é a mesma coisa), seja Deus (não há quem declaradamente se afirme mandatário do diabo), seja a Verdade, seja a Justiça, a Sabedoria, a Beleza, a Virtude, o poeta não se contenta com menos do que uma procuração conferindo-lhes esses poderes especiais, devidamente assinada por quem lhas, alegadamente, outorgou. E por não se contentar com menos do que isso, fica por contentar, porque ninguém tem esses poderes.
O poeta não fala por procuração. Não é advogado de causa nenhuma, nem professor de coisa nenhuma. Ao falar, em nome próprio, o poeta não está a falar acerca de nada, está a falar (a)penas.
Carlos Ricardo Soares
quarta-feira, 21 de julho de 2021
Alguém o fará por eles
Gostar de, ou não, ou desprezar, Shakespeare, Gil
Vicente, concordar ou discordar de Platão, Kant, contestar ou refutar Newton,
Einstein, ser apologista ou contra Karl Marx, venerar Beethoven ou Mozart,
adorar Deus ou renegar o diabo, não está ao alcance da veleidade e do capricho
de todos, como dizer sim ou dizer não, desta liberdade natural e essencial do
humano, e não está ao alcance de todos apresentar razões justificativas
consistentes e aceitáveis para o fazer.
O sim e o não, como nos referendos, são actos ao
alcance de uma cabeça que ouça e abane ou, para colocar uma cruz numa
quadrícula impressa num papel, de uma cabeça, mesmo que não saiba ler, com
olhos coordenados com uma mão, assinando de cruz o seu destino e o dos outros,
sem necessidade de fundamentar por que o faz.
Alguém o fará por eles.
O que ninguém fará por eles são as obras, que são de
quem as faz, apesar de sabermos que as obras, na realidade, pertencem a quem as
detém, ainda que não seja quem as tenha mandado fazer.
quinta-feira, 15 de julho de 2021
Quando o critério é o poder, o poder é o limite
O mecanismo de correcção dos erros que tem conduzido a humanidade, de superação em superação, numa clara melhoria das suas condições gerais de vida e de organização social, tem os seus limites.
À primeira vista, seríamos levados, numa escalada de correcção de erros e de aprimoramento das escolhas, individuais, colectivas, nacionais, estaduais, supraestaduais, globais, a uma situação cada vez melhor, ressalvado o facto irremediável dos males perpetrados e dos erros sofridos.
No entanto, esta lógica parece deparar com uma realidade, que nunca tinha sido considerada, até que se nos impôs da forma mais brutal: há erros, mentiras e fraudes, alienações, loucuras humanas, ganâncias, megalomanias, ignorâncias e estupidez, que são tão graves e foram tão longe, que não é possível remediar ou corrigir as suas consequências e efeitos.
A humanidade não tem sido capaz de se autorregular suficientemente.
Pelo contrário, tem sido empurrada para o abismo por aqueles que se arrogam e autodenominam governantes. Governantes segundo os interesses e as conveniências dos gananciosos e estúpidos que têm exercido todo o tipo de violência sobre o mundo.
É evidente que o homem, a pessoa humana, nunca foi respeitada, nem tida na consideração devida pela sua natureza, mas apenas em função do seu poder. Mas isto tem sido a chave para a maldição que recorrentemente nos atropela e desbarata a todos.
Talvez ainda não seja tarde de mais para limitar os poderes
daqueles que não respeitam nada nem ninguém que não tenha um poder igual ou
superior ao deles.
sábado, 10 de julho de 2021
O verso e o reverso da racionalidade
Se ter razão fosse uma coisa muito importante, os maiores torneios e competições não seriam de futebol. A razão, ou por outra, a racionalidade, é a marca de tudo o que fazemos, não por sermos de natureza física, material, corpórea, de partículas, ou outro plástico qualquer, mas por sermos biológicos.
A racionalidade que é a característica dominante do humano, não é exclusiva dele e isso é nítido se observarmos o comportamento dos seres vivos e tivermos em mente o que é a racionalidade. O que é fundamental para superarmos o mito, com uma história trágica, de que o que é racional é bom e apenas o que é racional é bom, é verificarmos que a racionalidade tem o verso da verdade e o reverso do erro, ou vice-versa.
Racional é tudo o que “fazemos”, entendido isto como “acto”, consciente, voluntário.
Racional é o trivial humano. Podemos ser responsabilizados pelo racional, mas
não pelo irracional.
Aliás, por ser o erro racional, pelas
mesmas razões que a verdade é racional, é que a mentira e a fraude campeiam e
fazem o maior sucesso, em todas as áreas de actividade (acto) humana.
Para não me alongar sobre este tema que
muitos acharão chato, mas que eu acho central para promover uma mudança de
visão e de análise crítica da nossa cultura hiperdiscursiva, que a filosofia, ao tentar derrotar-se a si
própria, levará de vencida, afirmarei apenas que a verdade depende menos da razão
do que da percepção da realidade e que, qualquer método, ou estratégia, ou
técnica, que nos ajude a refinar a percepção das coisas e dos fenómenos, será
para nós uma vantagem, uma mais-valia, porque nos permitirá exercer a razão no
sentido da verdade e não do erro, da falsidade, da fraude e da mentira.
Assim se compreende, se outras razões
não houvesse, a importância crescente (e transcendente) das ciências e das
matemáticas, nomeadamente, na função de desencantamento e fixação dos factos.
domingo, 27 de junho de 2021
A importância do PENSAR
É impossível exagerar a
importância do pensar, ou, como diz António Damásio, a importância da
consciência. Mas pensar e consciência só por si não são garantia de nada de
bom. Os estalinistas pensavam e eram conscientes, assim como os nazis e muitos
outros que perpetraram os maiores horrores, ao longo dos tempos. Ainda hoje, as
máquinas de guerra e de destruição massiva continuam a ser do mais
"pensado" e consciente que se pode imaginar e os indivíduos e grupos
que dominam e controlam os poderes e as riquezas são dos mais
"pensadores" e conscientes e inteligentes. Se quisermos encontrar
inteligência é nos núcleos de interesses que são mais disputados. O sector
financeiro é certamente um deles. Eles fazem a melhor escolha. A melhor
escolha, do ponto de vista evolutivo e da economia dos sistemas vivos, é aquela
que melhor serve os interesses do proprietário da racionalidade, que é um
indivíduo. Até que ele processe, por efeito da cultura, que a melhor escolha do
ponto de vista individual é a que recair sobre um interesse colectivo que não
seja conflituante com interesses de indivíduos ou grupos mais fortes, pode
decorrer uma eternidade, ou não, mas constatar que os problemas de composição
de conflitos (e as relações humanas assentam em interesses que, por definição,
são susceptíveis de gerar conflitos) são problemas de relação de forças e de
poder, que se sobrepõem à neutralidade da matemática e da ciência, que serve
todos igualmente, quer sejam estalinistas, nazis ou outros igualmente
autoritários.
O paradoxo, ou a ilusão da melhor
escolha é que ela é determinada em função de um indivíduo, do indivíduo que a
faz, mas relativamente a um interesse, ou seja, a algo que é disputado pelos
outros indivíduos e, se a solução procurada for mobilizar um grupo, a disputa
agrega-se e amplifica-se. Nesta fase, já o conflito está institucionalizado e o
pensamento e os valores mobilizados para "a melhor" escolha que é a
que se impõe, numa inevitável identificação do melhor com o menor dos males
possíveis.
Acredito na via institucional,
nomeadamente jurídica e política, com a Declaração Universal dos Direitos do
Homem à cabeça, em permanente actualização, de modo a abranger a defesa e
protecção da natureza e do ambiente saudável, iluminada pela ideia de Direito,
sem conceder nos direitos naturais do indivíduo humano, como único e
insubstituível dador, intérprete e destinatário de significado, de valor e de
sentido, que o coloca no topo da hierarquia do que deve ser respeitado e
defendido.
O reverso da medalha são as
implicações severas para o humano que ofender o humano e para as estruturas e
organizações estaduais, militares e policiais, ou económico-financeiras, que
subestimem ou violem os direitos, liberdades e garantias dos indivíduos, não
apenas enquanto cidadãos de um qualquer país, mas como titulares de direitos
humanos universais, de gozo e de exercício.
Desde a consagração
constitucional dos direitos fundamentais do indivíduo que a civilização deu
sinais de ter realizado um salto evolutivo. Mas os sistemas totalitários
reagiram de um modo brutal e desesperadamente demagógico e apocalíptico à
necessidade de empoderamento real e físico do indivíduo, dos indivíduos, face a
qualquer tipo de poder que não os respeite.
Lembremos que os Direitos Humanos
não são meras advertências, ou proclamações de princípios solenes, para
conforto psicológico ou ideológico dos indivíduos, uns perante os outros, mas
baluartes de defesa contra os poderes, mormente estaduais, militares e
policiais, de tal modo eles têm sido ameaça e ofensa efectiva desse valor
máximo que a nenhum outro deve ser sacrificado.
Actualmente, uma ameaça notória e
muito consentida pelos padrões de tolerância liberal do jogo capitalista ganha
terreno, à custa da valorização do indivíduo e da protecção que lhe é devida.
Os Direitos Humanos vão ter que se focar, não apenas na ameaça do Estado,
militar e policial, mas também na ameaça dos poderes económicos e financeiros,
nacionais e internacionais.
A liberdade individual, por um
lado, dá azo a que os poderosos abusem e as políticas sociais, justificadas pelo
dever de solidariedade e pelo sistema de mutualismo, bem como pelos direitos
dos mais carenciados, na prática funcionam como políticas de estímulo e de
investimento nas estruturas privadas de assistência médico-hospitalar e outras.
Aparentemente, a “guerra” é feita
pelos queixosos, pelos desagradáveis dos queixosos, que andam a importunar a
felicidade dos outros, pelos necessitados, pobres e doentes, que andam a
perturbar a paz dos ricos e bem sucedidos dissipadores de recursos. A vítima é
sempre mal vista.
Que a actual pandemia nos inspire
para concepções de prevenção e defesa do organismo humano, individual, que
sirvam de modelo para defesa e prevenção de outras pandemias não menos
perigosas e devastadoras.
terça-feira, 22 de junho de 2021
Não existem condições para o que não acontece
Dir-se-ia que nada está
pré-programado, mas que existem condições para as coisas serem. Não existem
condições para o que não acontece. E o que acontece, ainda que não saibamos as
causas, ou condições, é o que é susceptível de conhecermos, a partir da
memória. São factos. Memória. Passado.
A causalidade terá a ver com a
nossa relação consciente, em diferido, descontínua, irregular, episódica,
variável e nem sempre controlável, com tudo. A nossa consciência permite o
nosso conhecimento, que é sempre “reportagem”, memória, desactualizada, daquilo
que acontece. Digamos que o conhecimento está para a realidade assim como os
factos estão para o devir.
A consciência, ela própria, como
facto, parece não existir. Mais lembra o comboio da realidade, ou fluxo, que
não para em sítio nenhum e que estamos constantemente a perder.
O passado não é senão memória,
não tem lá nada que não seja registo de imagens, sons, etc.. Temos consciência
muito esquiva do presente que logo se faz consciência de memória. Até o futuro,
não existe senão na memória do que futuramos.
Se não tivéssemos memória,
teríamos alguma percepção do tempo? Ou, até, alguma representação da realidade?
A ciência inventou um teatro e
uma linguagem para representar a realidade, num tempo em que não havia
fotografia nem filmes e isso trouxe as vantagens que são conhecidas.
Assim como a literatura e o
teatro e as artes, em geral, fixavam ou congelavam a realidade no presente e a
filosofia procurava dar-se conta das realidades e suas razões, significando-as
e explicando-as, as ciências criaram um método “intemporal” de observação e de
consciência da realidade, enquanto fenómeno temporal.
No que respeita ao cérebro, os
incríveis avanços revelam-nos o que acontece, em termos de física de
partículas, por ex., quando percepcionamos um objecto, movemos os olhos,
voluntaria ou involuntariamente, reconhecemos esse objecto, pensamos sobre ele,
decidimos tocá-lo e fazemos o movimento e registamos a memória disso ou,
simplesmente, ignoramos, etc..
Os neurocientistas e os
cientistas da física de partículas, ou do que quer que constitua a vida, ao
serem capazes de explicar como é que a matéria, ou o “plástico” que existia no
momento do big-bang se foi reorganizando ao ponto de se tornar sensível
(homeostático?) e de ganhar um critério de reorganização que já parece uma
racionalidade diferenciadora entre dois ou mais termos, e como evoluiu, por
selecção natural, para formas de reorganização, nomeadamente nervosa, capazes
de memória e de sentimento e de consciência, etc., acabam por mostrar que a
ideia de programa é ela própria a ideia das condições que existem para as
coisas serem.
E, neste momento, creio estarem
criadas as condições para a filosofia ultrapassar algumas das discussões
clássicas e, partindo de novos pressupostos, se interrogar sobre a realidade
dos problemas e das soluções que eles devem ter.