Desceu a rua dos caçadores de mejengras
Virou pela travessa dos lumbricimorfos
Da choldraboldra chegou à trapizonda
Da mixórdia
Viu demónios farmacopoleando
O fogo fátuo
Ventríloquos do trovão
Alquimistas dos espíritos da centopeia
De cobra em campo
De campainha em cabra
De cadela em cão
Seguiu pela avenida dos trambalazanas
Da balbúrdia
Por todo o lado pufismos mirabolantes
Levou com estilhaços da histeria
Foi atacado por fanfarras
Cabotinos em estertores de delírio
Atrelou-se a uma cega que
Indiferente tacteava
Deixou-se guiar por quem
Ele guiava
E quando chegaram ao outro lado
Ele não sabia onde estava
Não trocaram palavra
Ela seguiu pelo beco da atoarda
Ele ficou ali
Numa encruzilhada
Em calhamaços da cachaporra
Triturantes do lírio
A ouvir os guinchos das charruas
Danadas
Esventrando almas penadas
E não podia pousar a cabeça
Em nenhuma almofada
A cambalear peão a fugir
Da girândola trampolineira
Dos masturbadores da exaustão
Quem lhe dera descansar
Alfim acrato no puído chão.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
quinta-feira, 1 de maio de 2014
A verdade
A verdade que podemos encontrar numa enciclopédia sobre a Verdade não está na enciclopédia,
nem nas bibliotecas e
não é a Verdade. Esta é a verdade.
É? E depois?
Continuamos a procurar a verdade,
mesmo falando verdade
e não a encontramos?
E se a verdade for desagradável? Dolorosa? Insuportável?
Queremos sempre a verdade?
E se a verdade é contra nós?
Que verdade, ou verdades, nos interessam?
Detestamos a mentira, mas há as meias verdades
e a verdade das partes
e a verdade do todo,
mas a verdade não está nas partes
e não está no todo.
A verdade, em última análise, é absoluta: ou é ou não é;
se é, é para todos e para todas as inteligências.
É ou devia ser?
Devia?
Porquê?
Um juiz disse-me que só o que está no processo é que está no mundo,
a verdade dele é aquela.
Um tipo que eu tenho por cientista diz-me que só o que é
verificável, mensurável, empiricamente, merece crédito.
Esta é a sua verdade.
Um poeta proclamou que «quanto mais poético mais verdadeiro».
A verdade do filósofo
com quem falei
é um veredicto,
são juízos sobre os próprios juízos,
sobre a contenda entre falso e verdadeiro
entre a ideia e a coisa,
embora saliente que ao filósofo interessa uma interpretação cósmica da sua experiência interior e
que essa interpretação, qualquer que ela seja, não é a verdade.
O meu pároco diz que Deus é a Verdade,
que as verdades do cientista e do juiz e do filósofo são juízos sobre coisas, factos, acontecimentos, acções e ideias.
A verdade não é conhecimento nem doutrinas teóricas que, como tais, se possam comunicar.
A alma tende para a contemplação da verdade,
para a pura contemplação,
sem pensar anotar o que contempla para disso se separar e representar isso sob uma forma «válida em geral» com a qual todos pudessem enriquecer o seu saber.
Cada pessoa permanece “fora” de interpretações e esquemas analíticos e nunca lhes está submetido; quando quer conhecer-se a si próprio, não é no homem em si, numa teoria da sua vida que se revê e o que lhe vem do íntimo não carece de explicação alguma.
terça-feira, 29 de abril de 2014
Escuto as dores do mar
É nessas dores que se banha a lua
Nem todas as janelas já estão fechadas
As dores do mar
O balançar das árvores ao alto
É nessas cores que a torda da alegria
Perde peso
E a alma de magreza voa
Do mar
A olímpica fantasia
Que atordoa
Quem poderá domar?
Nem todas as janelas já estão fechadas
As dores do mar
O balançar das árvores ao alto
É nessas cores que a torda da alegria
Perde peso
E a alma de magreza voa
Do mar
A olímpica fantasia
Que atordoa
Quem poderá domar?
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Quando se está debaixo
Quando se está
debaixo
das botifarras do bicho de sete cabeças
não há nenhuma porca de sete
mamas
que valha ao espezinhado
gente que está
por todo o lado
e luta até à morte
todos os dias
num confronto
forte
entre David e
Golias.
domingo, 20 de abril de 2014
O homem não sabe o que quer
Eis o problema:
o homem não sabe o que quer, nem para si próprio, quanto mais para os outros...
E, supondo que as pessoas têm uma vontade e objectivos para os outros, para a história, para o mundo, para a Humanidade, um desejo, sonho (projecto é diferente e, certamente, não existe um projecto com essas características, individual ou colectivo) que as transcende, então aí o que sabemos é pouco e o que não sabemos é incomensurável (e que certeza temos disto?).
sábado, 19 de abril de 2014
Começar e acabar
Começas de uma forma
E acabas da forma como começaste
Tu não envelheces nunca
Por isso é que não envelheceste
Olhas de um modo fixo
Não como se tivesses morrido
Mas como se morresses eternamente
Se dessem a uma mãe um bebé assim
Ela enlouquecia
Tu só não rejuvenesces
Porque foste sempre o começo da idade
Em ti nada acontece
O tempo não é
Se não
Tenho a certeza
De que rejuvenescerias ao máximo
Ao ponto em que estás
Que é aquele em que todos e tudo
Depositaram a espera
Em que tudo e todos ainda
Não começaram.
terça-feira, 15 de abril de 2014
Livro-me de ser julgado
A minha ideia avança
Meu medo
Não é nenhum
A minha praia
Sou uma criança
Um por todos
E todos por um
Palavras
Faço com elas
O que me aprouver
Mas livro-me
De ser julgado
Pelo que disser.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Povoado de sombras
Está sol
E
Num grande largo povoado
De sombras
Um pregador sob uma árvore
Adverte em nome do bem
Como um sol que faz
Desaparecer sombras
No canto de lá
Um propagandista reclama
Liberdade
Como um sol que faz
Sombras.
E
Num grande largo povoado
De sombras
Um pregador sob uma árvore
Adverte em nome do bem
Como um sol que faz
Desaparecer sombras
No canto de lá
Um propagandista reclama
Liberdade
Como um sol que faz
Sombras.
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