Ninguém critica a pedra por ser o que é, ou a nuvem, ou o mar. Ninguém faz pensamento crítico das aves ou dos peixes. Ninguém tem sentido crítico das
coisas que não são obra humana. As ciências da natureza, a física e a química e a mineralogia e a biologia...não têm uma palavra crítica sobre as coisas que estudam.
A crítica, o pensamento crítico, é sobre o humano cultural, sobre a produção cultural humana, a acção, incluindo a acção de manifestar
pensamentos e ideias e sentimentos.
Mas a crítica também pode ser exercida, por exemplo, sobre os deuses, ou sobre Deus, por aqueles que acreditam na sua autoria de algo, ou de tudo.
A crítica é, assim, uma função, ou faculdade humana muito curiosa.
E é, das acções humanas, a que está, talvez, mais sujeita a crítica.
Não obstante, as obras de arte, que tanta crítica suscitam, em si mesmas, enquanto meras obras, não me parece que forneçam razões para serem criticadas. Se
o são, talvez não seja por serem obras de arte, mas por aquilo que se diz delas, ou que elas dizem.