O bem comum, na realidade, variou e evoluiu muito, ao longo dos tempos e de modos que requerem não pouca investigação.
Mas o conceito, geral e abstrato, pouco terá evoluído em 3 mil anos.
O bem comum, que temos em Portugal e o bem comum, que têm os americanos dos EUA, por exemplo, são realidades muito diferentes, mas correspondem ao conceito de bem comum.
Tratando-se, no entanto, de realidades de países e de Estados, de que estes cuidam e prosseguem, ou devem prosseguir, o problema agiganta-se menos como problema
teórico, do que como problema prático, que afeta e corta na carne e nos interesses das pessoas concretas.
Só para falarmos da Educação, existe um bem comum em Portugal que é possível identificar e inventariar. Não sei se alguma vez foi inventariado,
mas a ideia de o ser anualmente, ou com outra periodicidade, não me parece tonta, e podia ser muito útil e produtiva. Esse bem comum, tanto quanto me apercebo, tem variado significativamente ao longo dos anos
e é de crer que continue a variar, em função de fatores e de condições que, em grande parte, não são aleatórias.
Muito do saber o que é o bem comum está intrincado na conceção daquilo que deve ser o bem comum, o que também coloca problemas de relações
entre o comum e o particular.
Gerir o bem comum são funções e tarefas que, para serem bem sucedidas, e não há garantias de que o sejam, requerem e não podem ser feitas
sem conhecimentos, entre os quais, relevam saber a diferença entre as condições e as exigências de uma gestão do bem comum e de uma gestão do bem particular.
O que tenho visto no panorama e nas montras da propaganda política e económica é muito desolador e preocupante porque passa a ideia de que há muitos gestores
particulares, alguns com sucesso medido pelos lucros, ainda que provisórios ou temporários, e que é isso que falta ao bem público.
Pois eu apostava que nenhum dos que se apresentam como bons gestores dos bens particulares tem perfil ou reúne condições para gerir o bem comum. Nem sequer o
bem comum dos acionistas que, em muitos casos, lhes compete gerir.
Vejo como altamente ameaçador e demolidor do Estado como o conhecemos, o simples facto de tantos eleitores se entusiasmarem com o rei da pirotecnia, ou com o dono da mais
premiada junta de bois da feira para presidente de um Estado, ministro da Educação, ou Provedor dos órfãos e viúvas e, muito menos, para presidente de um sindicato, ainda que não fosse
um sindicato de professores.
Não basta ser rei para que as coisas boas e necessárias aconteçam, sobretudo as que forem boas e necessárias para todos.
Carlos Ricardo Soares