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domingo, 30 de março de 2025

Viver a explicar a vida

Explicar é uma parte dos problemas que os humanos ousam enfrentar mas, com explicação, ou sem explicação, não podemos deixar de ir tocando a vida para diante. 
Quando Fernando Pessoa/Alberto Caeiro, no livro Guardador de Rebanhos, poema VII, escreveu "eu não tenho filosofia, tenho sentidos", disse mais sobre a sua filosofia do que sobre os seus sentidos. 
Aliás, para Fernando Pessoa, explicar e compreender era talvez tão importante, ou mais, do que viver, apesar de, paradoxalmente, ter reafirmado e valorizado o contrário. 
Para ele, tocar a vida para a frente consistia em constatar e tentar explicar os paradoxos e as contradições dos discursos acerca da vida.

                Carlos Ricardo Soares


segunda-feira, 17 de março de 2025

Aproximações à verdade XXXVIII

Amiga: os sábios diziam “não há fumo sem fogo” mas, afinal, o que mais vemos é que há fumo sem fogo

Hilário: e não é apenas como o velho ditado de que “as aparências iludem”

Amiga: ou que “vemos caras mas não vemos corações”

Hilário: ou que “as coisas não são o que parecem”

Amiga: até nesse aspeto o mundo já não é o que era

Hilário: e nunca foi, nós é que pensávamos que sim, que as coisas tinham de ser como são

Amiga: e isso significava que eram como sempre tinham sido e como sempre seriam

Hilário: hoje sabemos que “as coisas não têm de ser como são”

Amiga: isso é o título do livro de que já temos falado

Hilário: já vou no volume III, mas pode ser lido por qualquer ordem

Amiga: o principal argumento do autor não é sobre a suscetibilidade de as aparências não corresponderem à realidade, ou de esta não nos aparecer de uma determinada forma

Hilário: para mim é claro que o autor não se preocupa com isso, mas com o facto de que os humanos têm a extraordinária aptidão e capacidade de moldarem o mundo em seu redor e de o poderem fazer melhor do que fazem

Amiga: esse aspeto é muito diferente da questão das aparências e é surpreendentemente promissor de implicações teóricas e práticas

Hilário: uma implicação incrível é que, se os humanos podem fazer melhor, e o autor convence-nos disso, então devem fazer melhor

Amiga: como é? Se podemos fazer, devemos fazer?

Hilário: sabes bem que não é assim. Podes fazer pior, ou ficar quieta, que não deriva daí um dever de fazeres pior, ou de nada fazeres

Amiga: o dever surge da consideração, da constatação, ou da consciência da possibilidade de fazer melhor?

Hilário: lembras-te da canção “para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim”?

Amiga: fiquei a matutar agora naquilo de o dever surgir da possibilidade de fazer melhor

Hilário: o autor daquele livro dá uma explicação brilhante e muito sucinta, embora recorra a ela em muitos dos textos que o compõem.

                Carlos Ricardo Soares


domingo, 16 de março de 2025

O bem comum, os interesses particulares e o Governo

O bem comum, na realidade, variou e evoluiu muito, ao longo dos tempos e de modos que requerem não pouca investigação.

Mas o conceito, geral e abstrato, pouco terá evoluído em 3 mil anos.

O bem comum, que temos em Portugal e o bem comum, que têm os americanos dos EUA, por exemplo, são realidades muito diferentes, mas correspondem ao conceito de bem comum.

Tratando-se, no entanto, de realidades de países e de Estados, de que estes cuidam e prosseguem, ou devem prosseguir, o problema agiganta-se menos como problema teórico, do que como problema prático, que afeta e corta na carne e nos interesses das pessoas concretas.

Só para falarmos da Educação, existe um bem comum em Portugal que é possível identificar e inventariar. Não sei se alguma vez foi inventariado, mas a ideia de o ser anualmente, ou com outra periodicidade, não me parece tonta, e podia ser muito útil e produtiva. Esse bem comum, tanto quanto me apercebo, tem variado significativamente ao longo dos anos e é de crer que continue a variar, em função de fatores e de condições que, em grande parte, não são aleatórias.

Muito do saber o que é o bem comum está intrincado na conceção daquilo que deve ser o bem comum, o que também coloca problemas de relações entre o comum e o particular.

Gerir o bem comum são funções e tarefas que, para serem bem sucedidas, e não há garantias de que o sejam, requerem e não podem ser feitas sem conhecimentos, entre os quais, relevam saber a diferença entre as condições e as exigências de uma gestão do bem comum e de uma gestão do bem particular.

O que tenho visto no panorama e nas montras da propaganda política e económica é muito desolador e preocupante porque passa a ideia de que há muitos gestores particulares, alguns com sucesso medido pelos lucros, ainda que provisórios ou temporários, e que é isso que falta ao bem público.

Pois eu apostava que nenhum dos que se apresentam como bons gestores dos bens particulares tem perfil ou reúne condições para gerir o bem comum. Nem sequer o bem comum dos acionistas que, em muitos casos, lhes compete gerir.

Vejo como altamente ameaçador e demolidor do Estado como o conhecemos, o simples facto de tantos eleitores se entusiasmarem com o rei da pirotecnia, ou com o dono da mais premiada junta de bois da feira para presidente de um Estado, ministro da Educação, ou Provedor dos órfãos e viúvas e, muito menos, para presidente de um sindicato, ainda que não fosse um sindicato de professores.

Não basta ser rei para que as coisas boas e necessárias aconteçam, sobretudo as que forem boas e necessárias para todos.

                          Carlos Ricardo Soares

sexta-feira, 14 de março de 2025

Uma noite de amor

Apaziguante como o âmbar

Luzidia como o ouro

Beleza

Sonora como a nascente

No côncavo dos musgos.

             Carlos Ricardo Soares


quarta-feira, 5 de março de 2025

Baladas sob um céu estrelado VIII

VIII

E pelos teus lindos olhos

Ao encontrar-te despida

Só houvesse doçura

E não agruras na vida.

              Carlos Ricardo Soares


domingo, 2 de março de 2025

Baladas sob um céu estrelado VII

VII

E toda a gente ouvisse

Mas só tu dás valor

Aos acordes perturbados

Por lembranças de amor

                Carlos Ricardo Soares

sábado, 1 de março de 2025

Baladas sob um céu estrelado VI

VI

Como se o sossego

Viesse aos corações aflitos

Como cai a lua

Do alto da noite

Aos fados da rua

                Carlos Ricardo Soares


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Baladas sob um céu estrelado V

V

Como se os olhos

Vissem belas formas

Desejadas

Ao som das baladas

Do tempo perdido

Que não volta mais

          Carlos Ricardo Soares